QUEM PAGA ESSA CONTA?
 

 

Os moradores da comunidade Cafundós de Judas estão em polvorosas. Alguns torcedores fanáticos, descontentes com o mau desempenho do seu time de futebol ao longo do torneio regional, decidiram torcer a cada nova partida, para times adversários, como forma de protesto.

Jô Formigon está indignado com a mudança repentina de comportamento dessas pessoas de sua comunidade e sem medo da reação popular ele soltou o verbo:

- Eu sou do tempo em que o torcedor que tinha vergonha na cara nunca mudava de casaca, pouco importava o preço que iria pagar. Quando decidia rezar para seu time ganhar, rezava para o mesmo santo; na hora de torcer para seu time de coração o fazia de forma despretensiosa, sem querer nada em troca, mas pelo que vejo as coisas mudaram muito e decididamente não dá mais para continuar desse jeito – esbravejou.

Há quem diga que ele está disposto a mudar de comunidade tão logo termine o torneio regional e se isso vier a ocorrer será um choque muito grande para as pessoas que o admiram. Afinal de contas, ele sempre foi um símbolo do bom exemplo a ser seguido pelos jovens e adultos de sua comunidade.

O cidadão Murundu, ex-morador da Vila Macambiras, próximo a Cafundó de Judas, tem uma opinião totalmente contrária à do Jô Formigon.

Dia desses, enquanto tomava sua bebida habitual no bar O Derradeiro Gole, disse em alto e bom som que, se for preciso, vestirá a camisa de qualquer time de outra comunidade, contato que essa sua "atitude esportiva" possa lhe dar muita alegria e, consequentemente, tristeza para o torcedor do time adversário, e vai mais além:

- Analisando friamente a reação do meu amigo Jô Formigon, que de uma hora para outra resolveu colocar a fidelidade esportiva como ponto de honra nas atitudes de um torcedor, é possível que estejamos diante de um torcedor extraterreno - caçoou.

Disse, ainda, que o torcedor que se preza sempre quer ver seu time ganhando, custe o que custar. Ele não está nem um pouco preocupado com a emoção e/ou comoção que possa vivenciar o torcedor do time contrário.

Se por um lado o que pensa cada um dos personagens acima citados são opiniões pessoais que devem ser respeitadas, a emoção proporcionada a um esportista em razão do resultado positivo obtido pelo time que ele torce, tem muito a ver com o que ele esperaria de si mesmo se estivesse no lugar de um daqueles jogadores vitoriosos.

Assim, se esse resultado positivo poderá ser obtido por meio de métodos fraudulentos, sem o mínimo de esforço despendido por parte do time que necessita ganhar o jogo, essa emoção que o torcedor irá sentir após a obtenção do resultado “esperado” tenderá a se transformar num sentimento irreal ou talvez não.


Em ambas as situações, querendo ou não, o pobre do torcedor que frequenta os estádios, dando uma força para o seu time do coração, é quem paga a conta...