O AGORA. DIÁLOGOS.
“Na realidade, tudo isso mesmo é o portal para o que não tem forma, e para aquilo que nós somos além da forma. E nós podemos perceber que, em última instância... Tudo é um só. A forma é o vazio. O vazio é a forma. Ambos são um só.”
A forma constituída nunca pode ser vazia, em princípio, embora tudo seja uno, a não ser que tratemos de energia quântica. A forma incorpora a natureza em suas várias matérias manifestadas.
A forma é material, qualquer vazio é imaterial, excetuada a energia quântica que a tudo alcança e gera.
“As pessoas procuram a Deus ou cada uma a si mesmo acreditando que a uma determinada altura, no futuro, é claro, vão encontrar a Deus ou a si mesmo como um objeto na consciência, como conhecimento numa relação sujeito-objeto.”
Deus é razão de fé, a tanto englobaria “objeto” de consciência? Crer na nossa imaterialidade é aceitar a ausência de matéria, na sucessão de forma, matéria da qual somos feitos, episodicamente, esta incorporando àquela, volátil antes de surgir de dois gametas até onde vai e pode ir a ciência explicativa.
“Como se pudesse conhecê-lo (Deus) do mesmo modo como se pode conhecer uma árvore. Mas não se pode! Porque o incondicionado não é um objeto! É a fonte de onde todos os objetos mentais, os objetos na consciência, surgem. E aonde eles desaparecem.”
Mas se o vazio “é forma”, como dito, é objeto, pois todo objeto tem forma. Se o “incondicionado não é um objeto”, o que minha inteligência recepciona, não tem forma.
“Então, jamais podemos nos conhecer, no sentido normal da palavra. Mas podemos... SER isso. E isso se SENTE.”
Quem é conhece e sente, sabe o que é. Deus está próximo pela fé, e só, não é dado a conhecer como “objeto” ou por mero ato de consciência. Sabemos que “Deus é”, mas não “O que é”.
“A Verdade não é uma teoria, nem um sistema filosófico especulativo. A Verdade é a correspondência exata com a realidade”.
Paramahansa Yogananda, um dos maiores mestres indianos que já esteve entre nós, assim ensina em “Onde Existe Luz.”
“Esse é o significado mais profundo do AGORA. Pois, a coisa estranha com o agora, é que ele nunca abandona você e não muda.”
Nada há de estranho em não mudar o agora tratado como forma, já que está SENDO, pura realidade. Essa a verdade de Paramahansa Yogananda, o grande mestre. O agora não muda por ser verdade, palpável, não pode se confundir com imaterialidade.
“Quando nós nos rendemos à forma, conhecemos aquilo que está além da forma.”
"Render-se à forma, à limitação, possibilita emergir aquilo que está além da forma e além da limitação, e que somos nós mesmos. E isso vai contra como todos vivem neste mundo. Dificilmente as pessoas se rendem à limitação desta forma. Pensam que vão se livrar dela.
Render-se à forma do agora nos leva à profundidade do próprio agora, que então reconhecemos como a essência do nosso ser. Mas não é saber algo sobre ele, é uma unidade direta, saber diretamente que somos nós mesmos.”
Eu iria mais longe e diria... Que NÓS SOMOS o agora. Totalmente uno com ele. Ele nunca o abandona, não pode deixá-lo. A essência, a dimensão não condicionada de quem nós somos. E quando tomamos consciência disso, podemos permitir que o condicionado, a forma... Seja.
E isso é belo. A forma em que aparecemos... Porque não precisamos mais da forma para obter dela um sentido de nós mesmos. Daí as formas também são delas, se pertencem. Nós realmente as honramos pela primeira vez! Quando nos conhecemos e sabemos que estamos além da forma, nós também honramos completamente todas as formas. Então, render-se à limitação é uma verdade intransponível, à limitação aparente, esta é a verdade essencial. A verdade suprema de todas as religiões é o estado de consciência de entrega, onde não há objeto, mas consciência pura, embora limitada.
Chama-se “entrega” o Islã. Obviamente essência de todos os credos a entrega. No cristianismo, diz o vocábulo, essência define a imagem do Cristo crucificado. Jesus na cruz... É toda a humanidade pendendo sofrida do Gólgota. A cruz é a gigantesca limitação, extremado ícone do sofrimento que percebe o ser mais frágil de entendimento.
Nada poderia ser mais limitado do que estar pregado numa cruz. Assim, de certo modo e por certo tempo, os humanos vivenciam o mundo, que é um mundo de formas, quase como uma tortura, o conhecido "Vale de Lágrimas" onde sucedidas alegrias se apagam com um instante máximo de tristeza devastadora.
Por isso pode levar um tempo, até escutarem todos a mensagem da entrega traduzida naquela imagem de Jesus crucificado, a entrega acontecida na cruz. Total entrega à limitação extrema e aparentemente inaceitável.
Nesse momento, para cada um que resiste, a cruz se torna símbolo do divino. A própria limitação símbolo de Deus ou do Divino. Então, resistindo ou fugindo se percebe um profundo ato de entrega, se percebe o divino. Por que um Ser tão Grande, reconhecido dessa forma mesmo como humano, posto de lado seu incomum professorado como instrumento unigênito de seu pai, e assim exclusivo Filho, se deu a tal entrega? A entrega pode ser agora ou sempre! Pode levar tempo para resistirmos ao estado de entrega como seu estado permanente.
Tendemos a cair de volta na resistência, há impulso vital do entorno, condicionamento do coletivo e coletivo, que é intimidador. Já ouvi dizerem sobre minha coragem em falar de religiosidade em livro meu plural, que descerra filosofia, história, direito, teologia, religião, sociologia, sobretudo amor, tendo como núcleo o maior personagem que pisou neste planeta, Jesus, o Cristo.
É esse o estado de entrega. Esta é a essência da realização espiritual, ainda que a “busca” seja permanente e doída. Todos os ensinamentos apontam para ela. Isso serve para vermos que graça é perceber, tudo aquilo que parecia tão pesado que é o mundo da forma. Tudo que parecia estar nos limitando por todos os lados.
Na realidade, estamos muito além da forma. E nós podemos perceber que, em última instância... Tudo é um só.
Considerações minhas sobre trechos da palestra, entre aspas, proferida no Ashram Parmath Niketan, Rishikesh, Índia.