Escrever é prazeroso, mas não é fácil
Itamaury Teles
Clarice Lispector já afirmava, categoricamente, que “escrever é como quebrar pedras”. Embora não pareça, transferir uma ideia da mente para o papel – ou para a tela de um computador – é uma tarefa extenuante, que retira do artífice das letras suas últimas energias. É uma atividade que requer leitura, vivência, conhecimento do vernáculo, criatividade, disciplina e dedicação exclusiva ao ofício, em regime de tempo integral.
Como o padeiro que sempre oferece pão quente, para manter sua clientela cativa, assim é o cronista em busca de novos temas para suas crônicas. Seus escritos não devem ser comparados a pães dormidos, de pouco valor, nem caracterizados pela mesmice do esperável, do previsível. Devem, sim, ser recheados de novidades, de temas inusitados, de desfechos inesperados, de fino humor, de molde a fidelizar leitores, que se comprazem e se identificam com estilos únicos e inimitáveis.
Essa busca frenética por tema novo e de interesse dos leitores é um desafio constante que persegue e ocupa os operadores das letras, de um modo geral. Às vezes, impera o que se passou a denominar “vácuo criativo”, situação em que os temas desaparecem, problemas outros teimam em ocupar a mente do escritor, e a criatividade está em baixa. Um verdadeiro caos na tempestade de ideias...
Nessas ocasiões, o leitor normalmente é contemplado com texto cuja temática gira em torno exatamente da falta de assunto, elaborado tão-somente para ocupar o espaço diário ou semanal reservado aos cronistas nos jornais.
Quando isso ocorre, os cronistas contam com a solidariedade de seus leitores, que se apresentam em socorro daqueles que, ao longo dos anos, propiciam-lhes prazerosos momentos. Assim, sugerem novos temas para serem abordados e mandam os benfazejos afagos no ego, que reanimam a criatividade do escritor. Como num passe de mágica, se reenergizam e novos textos vêm a lume, como numa fornada de pão quente...
Muitas vezes o cronista se alimenta com temas do seu quotidiano e faz graça com os próprios tropeços, para o deleite de seus leitores. Pode-se compará-lo ao pelicano que, na ausência de alimento, abre o peito com o bico e oferece a própria carne aos filhotes. Mas tudo vale a pena, se a alma não é pequena, como nos ensina o Fernando Pessoa.
A paz de espírito é outra companheira inseparável do escritor. Se algo o atormenta, os textos encruam, não progridem. O escritor peruano Mario Vargas Llosa, recém premiado com o equivalente a 1,5 milhão de dólares, pelo Nobel de Literatura, revelou algo que dá bem a dimensão desse atributo. Disse ter parado de escrever e, praticamente, de ler, por um período de três anos, em decorrência de suas atividades políticas – como candidato derrotado à presidência do Peru -, o que foi um sacrifício para ele. E uma perda lamentável para todos nós, que admiramos sua escrita.
Política e paz de espírito são como água e óleo: não se misturam...
Guardadas as devidas proporções, também fiquei um ano sem escrever, justamente após minha derrota como candidato ao cargo de vereador, em Montes Claros. Com a inexpressiva votação recebida, me senti totalmente desacorçoado.
Paz de espírito era o que me faltava para novos voos literários. Sem ela, a motivação e a criatividade ficam em estado de hibernação. E só o tempo – o senhor da razão – pode nos reanimar com a cura...