Tempo escasso de viver
Houve um tempo em que o mundo era bom ? A bondade teria sido algum dia em todos o seu efeito essencial? Antes da palavra que tipo de vida humana havia ? Como vivia sem a força da palavra o amor? Apenas gestos... Esses resquícios estão guardados ainda e só podem ressurgir na agressividade social do mundo? Quem é capaz de compreender o tempo remoto antes da construção escrita e dos deuses e da magia? Como devia ser o sexo deste período arcano? Que esforço faz os meios atuais para reconstituir o inconsciente remoto do homem através das imagens disponíveis? Que incapacidade de revelar que essa procura é comum e em todos inominável? Que espécie de medo herdou? Que o levou a dividir-se em ramos sem todos fruto de mesma árvore oculta?
Que hoje facil poderia ser a resolução da fome pela divisão solidária e no entanto, para que não reste apenas o prazer, competem excluindo. O tempo excuso foi de luta e sangue, força e ruina, medo e dor. Tempo em que mergulhar no sexo e no sonho noturno era a rara força mágica sem amor legível, mas de instinto bruto. A nudez sem pecado, o crime sem pecado sendo a força o único poder. Herança de liberdade que ainda mora nos fascinorosos, nas almas negras.
Nunca fostes antes dos contos divinos aos tempos que nada podia ser traduzido? Tempo imperdoável, irremissível de insônia e delírio. Os poucos momentos sem fuga do inimigo reunia uma colônia de seres coabitando para reprodução ainda não compreendida. como se o prazer fosse apenas embriaguez sobre o absurdo da existência. Como o amor dos escravos gera escravos do amor. Culpam as formas do amor, suas horrendas fraquezas, mas não sem antes omitir os horrores da casa. Tempo antes da agricultura e dos espelhos das esculturas do ego. Antes de serem amontoados em pelotões para o embate sumário. Havia o amor desesperado, insano era viver e tudo era apenas para saciedade imediata. Quando teria surgido os designios da ternura?
... Se haviam deuses atrozes que ferviam o sangue para beber em crateras festivas o fim. Não foram os deuses que nos ensinaram a vida sem a força da impiedade. É o medo da natureza bruta, dos raios, das imensidades, das grandezas furiosas dos terremotos e vulcões. Somente a magia dos deuses alimenta nossa imortalidade de barro. Para tanto inventamos. Nutrimos pela invenção de nossa repulsa em ser impetuosos, daninhos, malvados com o recheio de pano das novas crenças. Obediência nascida de soberba, fraqueza da certeza de um todo não consabido. Medo de adoecer das delícias do amor e ser traido com afagos. Tudo que há no terreno individual é a luta para reconstituir o poder dos desejos posto na frente do tempo escasso de viver.
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