Monteiro Lobato: Um Construtor do Brasil
Nasci dois meses após a morte de Monteiro Lobato. Desde muito pequeno via-o todo esparramado nas prateleiras das estantes lá de casa, nos numerosos volumes daquela encantadora coleção de livros que eu usufruía mesmo antes de aprender a ler, através dos olhos e das vozes de meus pais que me transportavam para aquele maravilhoso mundo das Reinações de Narizinho, da Matemática da esperta Emília, do poço do petróleo do Visconde de Sabugosa, do carinho de tia Nastácia, da sabedoria da Vovó Benta, das aventuras de Pedrinho.Ali comecei a aprender História, Gramática, Mitologia, Aritmética e Geografia. E a desenvolver um raciocínio crítico através daquela inesquecível boneca de pano, a Emília. E, sobretudo, o gosto pela leitura que tantas alegrias me deu no transcorrer da vida, e também pelo da escritura.
No início da década de 50, adaptada por Tatiana Belinky e dirigida por Julio Gouveia na nascente televisão brasileira, a TV Tupi canal 3 apresentava a série o Sitio do Pica-Pau Amarelo. Naquele tempo, a televisão era realmente educativa. E minha admiração pela obra do grande escritor era tão grande que acabei sendo atraído para o Teatro Escola São Paulo, o Tesp, de Tatiana e Julio, e me tornando ator infantil, e sendo o Pedrinho daquele Sitio por três anos, no inicio da década de sessenta, seriado da TV Tupi. No ginásio do Santa Cruz não me chamavam por meu nome, senão por Pedrinho, tal era a minha identificação com a personagem.
O tio Candinho do Biotônico Fontoura patrocinou o seriado que atravessou a década de 50 e o início da de 60. Velho Amigo de Lobato, teve o grande mérito da iniciativa por difundir a grandiosa obra de literatura infantil no começo da televisão brasileira.
Lobato é um educador incomparável. Ajudou muito na formação de gerações de brasileiros. Difundiu exemplarmente a cultura, o humanismo, o nacionalismo. O Brasil deve muito a este espírito generoso e empreendedor.
É com um sentimento de profunda gratidão e emoção que elevo a minha voz contra a mediocridade da administração pública cultural do país que taxa de racista uma de suas principais obras. O obscurantismo moral, intelectual e espiritual que permeia o triste espetáculo de nossa política e administração pública não deixou de ser apontado no passado por Lobato, um grande brasileiro.
Sim, um país se faz com homens e livros, como muito bem foi dito. Infelizmente, nossa política cultural é orientada por pequenos homens inimigos do povo e dos livros, da cultura e da liberdade de pensar.
Já que o Lobato não está aqui para se defender, temos a obrigação de fazê-lo. Ele, sim, deveria ser nome de Faculdades, Fundações, ruas, avenidas, aeroportos, e não os políticos populistas, os ditadores implacáveis que estão sempre a conspirar contra o povo, os inimigos da cultura e da educação, apedeutas espirituais que ocupam os cargos públicos para beneficiar-se e a seus amigos e parentes.
Salve Lobato! Um grande brasileiro!
A cultura é nossa! Ela é mais importante que o petróleo!
Nagib Anderáos Neto
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