Os bons tempos da fanfarra
Quando menina, adorava ver o desfile escolar nas Festas de Cachoeiro, por um motivo muito particular: sonhava um dia tocar na “Banda do Liceu”, uma das mais aguardadas e aplaudidas da festa. Queria um dia, vestida naquele uniforme, desfilar meu orgulho em ser parte da escola. O Liceu foi a transição da minha meninice para a adolescência, um mundo novo de descobertas, sonhos e amores. E uma dessas descobertas, foi perceber através dos ensaios, que eu poderia ingressar na banda, melhor dizendo, fanfarra. Assim, lá pelos anos noventa, cursando o 2º ano ‘científico’ e ainda que com toda timidez, mas encorajada pelos colegas, ingressei na “Fanfarra Wilson Resende”.
Não foi fácil. Nos primeiros ensaios temia não ser aceita, pois era necessário tocar, marchar e estar atenta a todo sinal do regente Genilson, que está à frente da fanfarra até hoje. Além disso, era cobrada assiduidade nos ensaios para participar das apresentações, inclusive em festas fora da cidade. Mas o sonho de tocar na fanfarra superou a timidez, e todos os medos, como o de errar, de não ser aceita no grupo e frustrar minhas expectativas. A escolha do instrumento foi influenciada por um amigo da época, Adailton, que se adiantou em dizer que o tarol ou a caixa eram mais fáceis e por que não dizer, os que davam vida a banda. De fato, minha inclinação era mesmo por desses instrumentos, já que sempre pensei em aprender tocar bateria.
A fanfarra reunia muitos alunos da escola, de diferentes estilos e talentos. Nos ensaios aprendíamos as cadências, os ritmos e os hinos mais tradicionais, mas também aprendíamos muitos valores, como a importância de se trabalhar em grupo, sabendo que quando um músico erra, toda apresentação pode ser comprometida, mas isso não quer dizer que não podemos consertar, ir adiante. De todas as apresentações, a que guardo com mais emoção foi a da Festa de Cachoeiro de 1990. Desfilar na Praça Jerônimo Monteiro era o momento mais esperado por muitos da fanfarra, pois embora nos apresentássemos em outras cidades, por motivos óbvios, a nossa cidade era a que devia ser melhor homenageada.
E a vida, o destino, quem sabe, me reservaria mais tarde o encontro e a amizade com aquele que leva o nome da fanfarra: o professor e membro da Academia Cachoeirense de Letras, Dr. Wilson Lopes de Resende. De quem, por ironia, fui professora de informática. Ironia porque o temível computador, que antes era visto como um bicho de sete cabeças, atualmente faz parte da rotina desse professor, que soube tanto ensinar, quanto aprender uma nova atividade. Talvez ele não percebera que nosso conhecimento era partilhado, já que eu também aprendia com o professor de mais de oitenta anos, sempre disposto a aprender coisas novas, apesar de já possuir tanta sabedoria.
Os bons tempos da fanfarra podem ser revividos homenageando aqueles que se dedicaram a ela: ex-alunos e professores, o regente Genilson e também o professor Wilson, que é parte importante da história da escola, com sua contribuição na educação e formação dos alunos.