EPIDEMIA MEDONHA

Hoje, levantei-me cedo com um novo pensamento; com o intuito de melhorar, de regenerar-me. Olhei, pela janela, o sol a cintilar, a borboleta a voar, o mundo a sorrir. Sim, lá fora uma natureza bela, viva, cheia de luz; aqui dentro de meu quarto uma natureza mal vista, morta, cheia de trevas; um destino incerto, um mundo à parte, uma criatura pensante, uma cabeça diferente. Um cara que tinha oportunidades mil de ser igual a todos os outros jovens que sabem, de verdade, viver...

Sim, sou um jovem trapo aprisionado neste quarto; tive anseios, tive sonhos, tive ilusões mil, sim, era um cara normal, um jovem com idéias de abraçar o mundo e aproveitar a vida ao máximo, no seu sentido verdadeiro.

Comecei cedo a vida boêmia. Já aos 14 anos deixava o lar. Nas noites de algazarra, entorpecido pela bebida, fumava porque achava bonito; bebia e era apoiado por todos, pelos "amigos", por esta sociedade de consumo.

Inúmeras vezes, porém, imaginava-me sozinho, sentia-me abandonado; os estudos iam mal, os amigos se distanciavam, a sociedade deprimia e estimulava, a televisão, que era minha única companheira, fazia-me crer que a vida se resumia naquilo, na tranqüilidade de fumar um cigarro ou no conforto de beber um uisquezinho.

Sim, via-me restrito, diminuído em minhas capacidades. Até que um dia, resolvi aceitar o convite de um amigo para queimar o "pacau", a fim de acabar com aquela tristeza e fugir do meu mundo...

Naquela noite de inverno, foram-se todas minhas últimas esperanças de me tornar um bom aluno, ser um filho exemplar, de ser um cristão ou um espiritualizado, ou mesmo de acreditar em Deus, pois quem seria Deus para mim, que nunca ouvi nada sobre Ele, nem mesmo sei o que é?

Depois do primeiro veio o segundo, o terceiro, e a vida tornou-se para mim uma verdadeira queima do fumo de minhas últimas energias, de meus pensamentos, de minhas ilusões de um jovem, de minha própria vida.

Meu cérebro foi destruído pelas fortes sensações que os entorpecentes(a maconha, depois o crack), causaram; meu coração dilacerado, baldo de sentimentos superiores, apenas com instintos animalescos; meus pulmões já mal funcionam; meu estômago, estarrecido pela fumaça, sofre ulcerações e hemorragias várias; meus intestinos transformaram-se em depósito de bactérias; meu aparelho sexual, impotente e inutilizado, sofre estagnação de estreptococos e estafilococos de todas as espécies. Sou um defunto carcomido e apodrecido...

Mas, sinto que algo em mim ainda não morreu - é a esperança de um dia, quem sabe, voltar a ser um jovem - um jovem que saiba valorizar a vida e aproveitá-la no sentido certo e moral.

Pois é, hoje, levantei-me cedo, com o intuito de melhorar, de regenerar-me, entretanto, de que forma, se a sociedade, que é a maior culpada, já não me aceita como parte sua? Como, se já sou um marginalizado, um criminoso, um doente?!

Esta é uma carta que milhares de jovens, pelo mundo todo, escreveriam, traduzindo também, a vida de outros milhares, para não dizer de milhões, que são colhidos na voragem maldita desta epidemia medonha, a dos tóxicos, exacerbada pela indiferença de muitos adultos...

Desde os meninos de rua até os dos palacetes, todos estão ameaçados por esta epidemia(ou pandemia) que ninguém sabe quando será sustada.

Deploravelmente, no Brasil o tóxico é uma epidemia. E ele, atualmente, é pior que o câncer, que a Aids, mais contagioso que a miningite, mais assassino que o trânsito. Sem dúvida, assume proporções catastróficas!

Ninguém pode duvidar que, lamentavelmente, seja o negócio mais rendoso do mundo, daí ser quase impossível acabar com isso tudo.

É visível a impotência para combater tal monstro pelos métodos convencionais: repressão, violência, e coisas do gênero.

Mas, quem sabe, um dia, a sociedade vai entender que o principal método está nas orientações do Mestre dos Mestres, que há dois mil anos passou pela Terra, ensinando qual a pedagogia perfeita para o espírito humano...

Até lá...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 02/12/2010
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