A Crônica como estilo
A crônica é o estilo das urgências. Registro. Uma espécie de inventário de coisas e pessoas, espólio de tudo. Como lhe atesta o nome, é cronológica, mas em todos os tempos e modos.
Será a crônica a refeição rápida de digestão leve? Também. Mas não rejeita ser – talvez até prefira – aquela espécie de almoço de domingo com todos à mesa como se o dia seguinte fosse uma questão de dormir e acordar.
Sobre o que discorre a crônica? Pode ser que corra por aí a procurar motivos. Quem sabe escorra de um simples chope na esquina movimentada de um bar? Mas nunca se escora no óbvio. É que a crônica não gosta de ser notícia fria, mas o que anuncia os fatos como quem rasga lábios para cima ou para baixo: sorriso ou choro.
A crônica é o estilo dos suicidas. Alívio. Uma espécie de reinventar a vida para que morrer não passe de metáfora, embora a possibilidade não seja apenas uma questão de idade, mas diáspora. Mas a crônica não precisa ser circunstancial, nem banal ou trivial. A crônica pode ser passadista, pode vasculhar os porões da memória em busca de um rosto, um objeto, uma saudade, um paladar, um cheiro.
A crônica não inveja outros estilos porque não precisa deles para respirar. Tem atmosfera própria, o que lhe dá autonomia e a inscreve como literatura.
A crônica não precisa ter assuntos. Ela pode inventá-los e dar-lhes uma pele para que tenham vida.
A crônica só precisa de uma coisa: ser curta.