ESTA PODE SER A TUA HISTÓRIA

Aquela era uma vida difícil por demais. Suportar o abandono e a ingratidão ao mesmo tempo. Dores físicas castigando menos que dores morais.

Assim eram os dias da velhinha de nome Maria das Graças, internada no Asilo de Velhos há seis longos anos.

Tudo começou quando a mesma, por circunstâncias do destino, ficou só no mundo e foi morar em companhia de seu filho mais velho. Aliás, ela possuía três, um homem e duas mulheres.

Este era casado há quinze anos. Tinha cinco filhos. O mais velho era adolescente com quinze anos de idade, mas eram inquietos, superativos, verdadeiros pestinhas, que colocavam tudo de pernas para o ar, deixando quase louca a empregada da casa.

A mãe, pouco se dedicava à educação dos filhos, pois além de trabalhar fora, dava grande importância à vida em sociedade, às coisas materiais.

O pai de seus netos sempre ocupado com o trabalho. Era alto executivo de grande empresa. Quase não parava em casa. Viajava muito.

Foi assim que, Dona Maria das Graças vivenciando toda aquela balbúrdia em casa, começou a dar palpites junto à nora e ao filho. Da mesma forma interferia sempre, ralhando com seus netos, quando aprontavam.

No início, seu filho e esposa não se importaram, porém, depois a nora começou a ficar incomodada com a interferência da sogra. Os netos não ligavam a nada do que a avó falava, aliás, até debochavam da pobre senhora.

O tempo passava, a situação era cada vez mais difícil, e a nora já dizia ao marido que não seria possível a permanência daquela mulher na casa. Os próprios netos jogavam sua mãe contra a avó.

O marido pedia paciência com a mãe, pois afinal, esta possuía setenta e três anos de idade, e, além do mais, ao se intrometer o fazia com o intuito de zelar pelo bem-estar de sua família. Mas não era compreendida pela nora e seus netos, que começaram a maltratar a velhinha.

Assim, por causa da mãe, sucediam-se as brigas do marido com a mulher, abalando ainda mais o ambiente familiar.

Dona Maria das Graças compreendendo que era o pivô da pendenga entre seu filho e esposa, que poderia acabar em separação, pediu para sair daquela casa, dizendo ao filho que iria para casa de outra de suas filhas. Porém, aquelas, sabendo do ocorrido naquela casa, foram inventando desculpas para não receberem sua mãe em seus lares.

Assim, reunidos, deliberaram colocá-la num asilo de velhos.

Internaram-na naquele abrigo que, por mais acolhedor que aparentasse não conseguia fazer com que seus hóspedes se sentissem em casa.

Era muito conturbado conviver com tantos idosos, de ambos os sexos, nas mais variadas condições de saúde, tanto física, quanto mental.

Era um que gemia de cá, outra que reclamava de lá; outro que falava sem parar sobre seus filhos que nunca vinham buscá-los. Havia os que diziam que seus parentes os abandonaram.

Enfim, naquele ambiente os filhos deixaram Dona Maria das Graças. Inicialmente, eles a visitavam duas vezes por mês. Todavia, as visitas começaram a rarear para uma vez, depois a cada três ou quatro meses, e em seguida não mais ocorreram, ficando Dona Maria esquecida de todos os seus familiares.

Depois disso, em razão do grande sentimento de abandono, ela entrou em séria crise depressiva e foi se desinteressando da vida, adoecendo a seguir. Ficou dois meses de cama e, numa manhã chuvosa, exalou seu último suspiro neste mundo de tantas contradições, que torna amargo, dramático, o ocaso de incontáveis vidas.

Quando se fala a respeito de idosos, alguns tentam demonstrar alguma preocupação, porém, na maioria o que encontramos é o preconceito, o enfado, a desconsideração, como se velho fosse sinônimo de traste imprestável, sem a menor utilidade. Por causa disto, a velhice no Brasil, país de inúmeros contrastes, na maioria dos casos é triste e amarga, quando deveria ser o contrário.

Até quando?!

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 01/12/2010
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