VER SEM ENXERGAR
É deplorável como o eleitor brasileiro, em sua maioria, acostumou-se a ser ludibriado pelos próprios políticos que ajudam a eleger. Sai eleição entra eleição e é sempre a mesma coisa... São reconduzidos às esferas do poder, via de regra, aqueles que fazem da política não um sacerdócio, mas um meio de vida, uma espécie de atividade rendosa...
Aqueles que posavam de "incorruptíveis", antes do pleito, depois de eleitos, transmudam-se da noite para o dia, ensandecem e, o que durante a campanha política era rotulado de ilegal, miraculosamente, toma foros de legalidade...
Qual será a maneira pela qual o eleitor fugirá da lábia, dos encantos magnéticos de políticos ruins?!
Acho que só uma fórmula existe: adquirir aptidão para ver sem enxergar...
Deve o eleitor tornar-se apto a ver intimamente o candidato, mesmo sem enxergá-lo. Como seria isto?
É simples. Basta olhar para o passado do político. Se é profissional da política e, se quando detentor de mandato quais os benefícios que trouxe à população; atentar para os "assessores" dos quais se cerca, pois, muitos estão rodeados de verdadeiras maltas de sanguessugas, aproveitadores desqualificados. Deve observar se não enriqueceu subitamente, de forma obscura, saindo, como se diz: do lixo para o luxo; se não é um oportunista ocasional, tais os que costumam aparecer somente em épocas eleitorais prestando inúmeros "serviços" à sociedade(distribuindo dentaduras, óculos, cadeiras de rodas, etc.), mas, com os olhos voltados para sua candidatura; se quando eleitos desaparecem das vistas do povo, ou mascaram-se tornando-se aquele tipo "figura difícil", cujo poder sobe à cabeça.
É preciso declarar: existem bons profissionais da política, todavia, são raros.
Enfim, são tantos os meios que, aos poucos, todos devem exercitar a capacidade de "ver sem enxergar".
Exemplo admirável disto é este conto árabe ocorrido com um condutor de camelos, que perdera um de seus animais.
Caminhava pelo deserto quando lhe sucedeu encontrar um homem, a quem perguntou:
- Acaso o senhor não encontrou, hoje, um camelo extraviado?
O homem respondeu:
- Não é um camelo cego do olho esquerdo?
- Sim.
- Que perdeu um dente de cima e da frente?
- Sim.
- Que mancava da pata esquerda traseira?
- Sim.
- Carregado de milho de um lado e de mel do outro?
- Sim. Mas o senhor não precisa entrar em maiores detalhes. É esse exatamente o camelo que procuro. Estou com pressa. Onde o senhor o viu?
- Não vi nenhum camelo, respondeu o homem.
- O senhor não o viu? E como pode descrevê-lo tão minuciosamente?
- Porque quando a gente pode servir-se dos olhos, tudo tem uma significação. Mas a maioria das pessoas têm olhos que não lhes servem para nada. Eu sabia que um camelo havia passado porque vi seus rastros. Sabia que mancava da pata esquerda traseira, porque de preferência ele usara desse casco e sobre ele se apoiara, como seus rastros o mostram. Sabia que era cego de um olho, porque só pastara a erva do lado direito do caminho. Sabia que perdeu um dente de cima e da frente, porque nos lugares em que mordeu as raízes, a impressão de seus dentes ficou patente na terra. O grão de milho escapou-se de um lado, as formigas mo disseram. O mel escorreu do outro, as moscas mo contaram. Sei tudo que se refere ao camelo, mas não o vi...
- Concluindo, tal habilidade não é simples, entretanto, não requer recursos sobrenaturais, basta apenas usar um pouco de inteligência, pois, se o camelo deixa em suas pegadas muito material para observação, lembro: O homem são seus atos e, o que fizer de bem ou de mal, em algum lugar, deixará rastros que contarão sua história. Veja quem tiver "olhos de ver"...
Quando será que o povo brasileiro, em sua maioria, aprenderá a ver sem enxergar?
Não se sabe e, até lá...