O FUNERAL
O Funeral
01/2009
-Não devo criticar, mas posso dar a minha opinião, certo?
-Depende...se não for ofender!!!
- Claro que não!! Apenas acho que não acredito mais no amor, isto é, não acredito no amor duradouro de um relacionamento, de um casamento.
- Mas por que acha isso? Desiludiu-se?
- Pode ser, mas existe a prova comprovada que persistir numa relação conturbada é um crime... Nenhuma das partes sai feliz ou se dá por feliz no final das contas.Acontece sempre. Veja a senhora ali. Você acredita que ela foi feliz a vida toda no casamento? Você acha que ele foi fiel a ela a vida toda? Você acha que ela não sentiu vontade de sair fora anteriormente e que sabia que só seria feliz quando isso tudo acabasse?
-Ah...Você está julgando sem saber... Muitas vezes há traição sim, mas o amor fica, resiste, insiste e acaba sendo vitorioso.
- Julgando sem saber? Discordo mais uma vez. Acredito que só agora é que ela vai poder viver. Agora ela vai poder fazer tudo o que sempre sonhou. Agora ela poderá dizer que realmente a vida vale a pena. Vai poder cozinhar quando quiser, como quiser e o que quiser. Vai poder acordar e ir onde quiser e com quem quiser. Ninguém mais a repreenderá se pode ou não pode, se deve ou não deve. Veja...ela chora, está meio que assustada, sem saber onde ir. Observa...
- Ora!! Não me venha dizer que acha que ela está gostando desta situação??Não seja tão cruel!!!!
- Cruel???Não...Você sabia que ela adoeceu por causa dele? Que ele era totalmente rigoroso e que apesar de lhe dar uma vida ótima, com muita fartura, ele era arrogante, sarcástico e que a fazia chorar todos os dias por causa da sua ironia provocante o tempo todo? Amigo, você verá daqui uns dias...
- Nossa! Não te conhecia... Num velório você falando assim... Tenho até medo.
Regina sorri e faz um aceno com a cabeça pra que olhem a saída do caixão.
A viúva olha, beija a testa do marido e sorri, passando a mão pela cabeça, com carinho.
Os filhos e os demais parentes fazem o cortejo e seguem sem a cabeça levantar.
Era um final triste!!
A viúva segue, pé ante pé, amparada por um homem desconhecido, nunca visto...
Quem seria?
Regina até desconfiava, mas resolveu não falar por solidariedade à amiga...
Foi-se mais um funeral...