Omissão: comportamento asqueroso
A mulher voltou mais cedo, entrou no quarto e viu, para a sua decepção, seu marido aos beijos e abraços com outra. Era uma conhecida sua e de longa data. Desesperou-se e pensou em agir de forma violenta. Ponderou um pouco e saiu de perto. Em outro ambiente da casa se pôs a pensar. O quanto ganharia e o quanto perderia no episódio denunciando-o ou ignorando-o? Afinal seu companheiro era muito respeitado no meio e ela, como esposa dele, também era tida como referência social.
Depois de longa reflexão concluiu que o melhor seria ignorar. Romper com o relacionamento significaria perder a forma de vida que levava. E os filhos, como fazer? Como tirá-los daquele modo de viver que tanto gostavam? Precisava fazer uma opção. Pesou na balança e resolveu se omitir.
Retirou-se sem fazer barulho. Esperou a amante do esposo sair e voltou para casa. Ele estava tomando banho. Aguardou e quando ele saiu do banheiro beijou-o como se nada tivesse acontecido e perguntou: “o que quer para o jantar”? Ele respondeu: “qualquer coisa, gosto do que você faz”.
Conveniência, a palavra do momento. Engolir sapo, a expressão da hora. Sorrir para não chorar. Fingir que não vê, para não ter que agir...
Essa falta de ação, inércia ou passividade está campeando a sociedade. Invadiu a família, insurgiu-se contra a moral. Omissão, quem gosta dela e quem a detesta? Quem a repudia e quem a pratica?
Costumo dizer que o omisso é mais deletério do que o ativo. Aquele que age, que pratica, que atua, pelo menos se torna visível. O omisso é invisível e enganador. É sutil. O omisso esconde-se atrás de atos bons e deixa de agir, quando se sente em perigo. É comum a frase do omisso: “eu nunca fiz isso ou aquilo, vejam minha vida...”. A questão não é essa! O problema não está naquilo que o omisso fez, mas naquilo que deixou de fazer, levando outros ao descaminho ou ao prejuízo.
O omisso age com inteligência, quando convém é claro. Diz que não gosta de se meter na vida dos outros. Não é a isso que me refiro. Reporto-me aos atos, que se evitados, corroborariam para o bem da coletividade. O omisso desconsidera essa possibilidade e pensa em si. A pergunta que faz é: “o que ganho ou o que perco?” Em caso de certeza de ganho ele age. Em caso de dúvida ele recua, sem medir as conseqüências promovidas por sua inércia.
Considero o omisso um câncer social.
A omissão, por fim, chegou ao suposto reduto da moralidade: a religião. As igrejas conseguem ter o maior número de omissos por metro quadrado! São imbatíveis! É interessante observar as pessoas com aquelas “caras de santo de pau oco” nas igrejas, elevando preces e cantando louvores. Ao mesmo tempo, qual aquela mulher traída, fingem não ver a podridão reinante no contexto no qual estão.
A pessoa, numa reflexão maldita põe-se a perguntar: “o que ganho ou perco agindo ou ignorando?” “E minha condição social e minha família?” “O que pode acontecer?” “Colocar em risco isso aqui? Nem pensar!”
Por fim conclui: “vou ficar no meu canto, afinal tenho sido um bom exemplo e não faço essas coisas”. “Comporto-me bem...”
As leis humanas dizem, em palavras coloquiais, o seguinte: “aquele que por ação ou omissão... será julgado conforme legislação...” Notem que a ação e omissão têm o mesmo peso!
E perante Deus? Será que aquele que deixa de tomar atitudes que poderiam inibir o mal não é tão culpado quanto aquele que pratica o delito?
São situações como essa que fazem a pessoa migrar da decepção para a revolta. É decepcionante ver alguém errar uma vez. É revoltante ver a repetição sistemática do erro. Principalmente esse erro maldito! A omissão asquerosa!
O que podemos fazer? Simples: basta apenas não fazer parte do grupo dos omissos. Primeiro buscar fazer o que é certo – simplesmente porque é certo. Não ser omisso faz parte dessa virtuosidade.