Vencendo a timidez

Bateram à porta, fui atender, era o rapaz que veio fazer a vistoria, para o controle da dengue do nosso condomínio.

Convidei-o à entrar, e o acompanhei, na inspeção por todo nosso jardim, quintal, e piscina.

Ele era tímido, parecia mais que olhava para seu próprio pé, do que para os vasos, ou para a água da piscina, para ver se havia algum foco do mosquito transmissor da dengue.

Fez-me perguntas de praxe, sem nunca tirar os olhos do chão. Pensei, que difícil deve ser esse trabalho para ele. O de verificar se há alguma irregularidade nos quintais das casas, ele tira de letra. Mas, no momento de se comunicar com as pessoas, realmente não é o forte do rapaz.

Fiquei olhando-o quando se despediu, fichário na mão, tudo bem anotado ali.

Quando agradeci a ele, pelo trabalho que prestava a todos nós do condomínio, pelo zêlo e cuidado em afastar os perigos dessa doença. Olhou-me surpreso, e disse: sabe que ninguém nunca me agradeceu, há casas, que nem me deixam entrar, e outras que quando entro, sou recebido como alguém que ali está, só para amolar. E se foi feliz !

Pensei, na hora de ir embora, ele conseguiu se soltar, a palavra mágica, que eu disse, foi : Muito obrigado, pelo seu trabalho.

As vezes, o caminho para chegarmos a uma pessoa, é tão curto. E nós por falta de sensibilidade, deixamos esse caminho tão maior.

Por falar em timidez, em agradecer. Ontem à tarde foi nossa festa de final de ano, do Hospital que presto trabalho voluntário. Uma linda festa.

Ocorreu em um grande espaço aqui na cidade de São Paulo, e estava tudo perfeito.

A comida deliciosa, música ao vivo de primeira, desfile de moda e a companhia prazeirosa de todas as 400 voluntárias que encheram de alegria aquele belo salão de eventos.

Recebemos, cada uma de nós um número, e avisaram que haveria sorteio, eu então como não sou tímida, disse logo: eu vou ganhar !

As amigas do setor de internação disseram: mas você não sabe nem o que vai ser sorteado.

Eu disse: seja o que for, vou ganhar !

E não é que no sorteio meu nome saiu, e lá fui eu, receber o prêmio, toda alegre.

Subi ao palco agradeci e falei algumas palavras, sobre o belo trabalho, que é realizado por aquele grupo de voluntários.

Quando estava descendo, com o presente nas mãos, pensei no moço do controle da dengue, e na sua timidez, e ri ao imaginar o sufoco que seria para ele, ter que receber o prêmio com todo mundo aplaudindo.

E não pude deixar de pensar: uns com tanta inibição e outros sem vergonha. Claro, no bom sentido.

Lenapena
Enviado por Lenapena em 30/11/2010
Reeditado em 30/11/2010
Código do texto: T2646033