O Diário de Judith Schnneider II

Parte II

Os momentos foram ficando frios e repentinos, rapidamente escureceu, a noite, e seus mistérios tomaram conta dos meus olhos, minha irmãzinha chorava de fome e eu não sabia o que fazer para ajudá-la. Resolvi então voltar para casa, pois não ouvia barulho de balas, nem gritos de socorro, pensei que no meio das paredes do meu lar eu estaria segura. Segui horas em meio as arvores, espinhos, com os pés nas pedras, carregando o peso da perca dos meus pais, ao passar de horas chego com minha irmã morta de fome. Minha casa estava intacta, aliás, a vida toda, porém tudo escuro, nenhuma luz, nem velas ou lâmpadas iluminavam aquele simples vilarejo.

Eu estava de certa forma, “anestesiada” com tudo aquilo, a campanhinha do meu juízo ainda não havia tocado, me alertando que eu estava sozinha no mundo, indefesa, com uma criança que havia se tornado minha filha!

Dei de comer a Ester, me deitei ao seu lado, tentei dormir, pedindo a Deus que nunca mais acordasse,ou que fosse apenas um pesadelo e que eu iria acordar com minha mãe gritando para eu ajudar ela em casa, mas nem a morte do inferno veio me buscar.

Após algumas horas, ouço um som estranho, que vinha da janela, rapidamente me levanto e vejo que existe um caminhão, parado na porta de casa, e que homem chamava pelo nome do meu pai, em voz baixa. Enrolei minha irmã em panos, e andando lentamente tentei sair de lá, com medo de ser alguém para tirar minha vida, e do resto de família que eu tinha.

Chegando na porta dos fundos, sou surpreendida, com pessoas vestidas de preto e com tochas nas mãos. Meu susto foi enorme, sem reação fiquei parada, mas nesse exato momento, eles me acalmam e dizem:

- Judith! Calma, sou eu Abraham, e esses são meus familiares, faça silencio e suba naquele caminhão que iremos sair daqui e ir ate a capital!

Sem pensar duas vezes subi naquele transporte, carregado por homens, mulheres, suas crianças e pertences.

Lá pude dormir tranqüila, ouvindo o doce som de uma caixinha de musica que tocava na mão de uma criança.

Eu não agüentei, e me entreguei ao sono pesado, ao cansaço, a dor, e acabei apagando, até que do nada o caminhão para, e algumas luzes, alcançavam nossos rostos, vi que homens se aproximavam, no desespero da situação, o condutor desvia caminho e entra, com toda a velocidade por dentro da floresta, arrebentando galhos e passando por cima de pedras, todos gritavam, e tentavam se segurar, com o balançar alguns acabaram caindo, ou se machucando com os galhos das arvores. Para nosso alivio momentâneo batemos em uma gigantesca arvore, e paramos.

Estávamos machucados, desesperado com a perca de alguns, e com medo, pois a mesma luz que nos perseguia a poucos metros, rapidamente se aproximava de nós. E era dezenas de homens, que gritavam:

- Fiquem onde estão, Judeus malditos!

Aos que reagiam a suas ordens, eles atiravam, sem dó, piedade ou motivo de argumentar nada, simplesmente nada, eles atiraram em mulheres grávidas e na criança que se recusou a fechar a caixinha de musica. Eles não admitiam crianças recém-nascidas, ou com poucos meses de vida, então um homem, com olhos bem azuis, tomou minha irmã de meus braços, e com toda a brutalidade do mundo, como se pegasse um porco na feira, saiu com ela, em meio as arvores.