O Diário de Judith Schnneider

Varsóvia, 18 de Maio de 1943.

Tenho medo, sinto fome, frio, e dor... Muita dor...

Ontem completei quatro meses aqui, não sei a que milagre ainda está viva, estou apenas a espera. A cada instante, a cada minuto que passa os gemidos, os gritos se diminuem gradativamente, meu joelho está ficando grande, que Deus me salve do Tifo.

Papai, mamãe, todos se foram. Ontem os alemães me deram um pedaço de papel velho, com um lápis azul, em troca, com nojo me deitei com eles, não quero, e não posso morrer esquecida.

* * * * *

Meu nome é Judith Clain Schnneider , 26 anos, filha de família Judia, papai era comerciante, mamãe cuidava de minha irmã, um querubim de bochechas rosadas, de nome Ester.

Éramos uma família, eu diria que perfeita, aos meus olhos e aos olhos de toda nossa comunidade.

Sou enfermeira de formação, ajudava poucas vezes em um hospital, mas apenas por bondade, tenho pavor a sangue.

Em uma manhã, se não me engano, de quarta feira, fui ao comercio do meu pai, levar algumas coisas a ele, assim que chego vejo meus pais, com seus melhores amigos, eles estavam falando em alto tom, e preocupada me aproximo deles e digo:

-Papai, o que houve?

Meu pai com os olhos vermelhos diz:

- Querida, vá para casa e não deixe ninguém sair de lá!

Sem entender nada, vou a minha casa, fecho as portas, janelas e espero meu pai chegar.

Minha mãe me questiona, o porque de tudo isso, porém nem mesma sei, e tento, de todas as formas não causar pânico em casa.

Depois de algumas horas meu pai chega, com sacos de papel na mão e diz a minha mãe:

- Querida, precisamos sair daqui!

Pegue nossos documentos, tudo que for de mais precioso a nós, peguei todo nosso dinheiro no banco, os alemães estão na cidade, chegaram em trens imensos e estão levando nosso povo! Os que se recusam a sair das suas casas são mortos na frente dos próprios filhos!

Mamãe em desespero começa a chorar enquanto papai vai aos nossos quartos pegando nossas coisas, colocando em sujos sacos de batatas.

Em desespero, sem entender muito, pois sabíamos que nosso povo estava sendo separado dos “arianos” alemães, mas nunca... Nunca poderíamos imaginar que isso ocorreria aqui, próximo a nossos lares.

Saímos pela porta dos fundos, andamos agachados em meio as árvores, papai dizia que iríamos andar algumas horas até chegar em uma caverna, onde poderíamos passar a noite.Era outono, as folhas douradas caiam entre nós, tal beleza que o céu nos dava, não poderia ser observada, nem ao menos contemplada, pois nossas incertezas, nossos medos e receios furavam nossos olhos, nos tornavam como maquinas, não conseguíamos para de seguir sem rumo.

O conforto do silêncio rapidamente nos foi tirado.

Chegando a um trilho de trem, papai foi surpreendido com um tiro na perna, mamãe em desespero solta minha irmã, e corre até ele, enquanto eu e minha irmã nos escondemos a traz de uma pedra.

Alguns alemães, eram seis, pegaram minha mãe pelo cabelo, empurrou a longe de meu pai, e terminou de mata-lo com alguns tiros em seu rosto; minha maior tristeza é saber que minha mãe viu tudo isso. Após isso pegaram mamãe, com força brutal e a levaram para um carro, sujo, escuro, com vários homens, mulheres e crianças. Eu e minha irmã estávamos lá, paradas a traz da fria pedra, esperando que aqueles monstros fossem embora, ao mesmo tempo tinha vontade de jogar toda a minha força de filha para resgatar minha mãe, ou tentar ao menos abraçar meu pai.