Dom Quixote: ser ou não ser

Mestre da nobre arte da picaretagem, o paraibano Assis Chateaubriand foi precedido nessa prática por gente como José do Patrocínio, o homem da Abolição. Picaretagem é o expediente a que faz uso o sujeito que tem alguma influência na opinião pública para alcançar favores. É prática corrente entre noventa por cento de radialistas autodenominados de “caceteiros”, aqueles que batem com um jornal velho na bancada, ameaçando:

--- Os documentos estão aqui comigo, são provas contundentes. Amanhã vou provar que o prefeito fulano é corrupto.

No outro dia, acertados os ponteiros com o tal prefeito supostamente corrupto, o “caceteiro” desfaz a trama:

--- As denúncias são vazias, o prefeito fulano é um cidadão de bem.

Nos jornais, principalmente pasquins interioranos, a picaretagem predomina. Faço jornal de interior desde os quinze anos de idade. Jamais admiti picaretagem. Vendo espaços, nunca ideias. Talvez por isso não tenha prosperado no negócio. Meus jornais geralmente abrem falência depois de dois ou três anos de circulação. O recorde ficou com “Tribuna do Vale”, um jornal mensal que circulava na região do vale do Paraíba. Foram seis anos ininterruptos mantendo uma qualidade rara nos jornais desse tipo. Depois veio a insuficiência de recursos para manter o jornal, com a crise econômica. Fechamos as portas, mas sem dizer adeus. Essas aventuras fazem parte de minha vida, desde que em 1970 lancei o “Jornal Alvorada”.

Pois em janeiro que vem estou planejando a volta do “Tribuna do Vale”. Temerário? Pode ser. Aceito a pecha de “Dom Quixote de La Mancha”. Mas vou combater o bom combate através da imprensa sadia. Digo com o jornalista Carlos Heitor Cony: “se ficasse em casa não seria um homem, seria uma coisa, um moinho sem vento e sem grandeza, imóvel, pascácio.”

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 29/11/2010
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