Bordados da Alma - EC
Quando Nena Medeiros respondeu que eu poderia participar do grupo de exercício criativo e o tema seria "Bordados da Alma", pensei: afi, o que será bordados da alma? É bonito o nome, mas a gente fala de que? Para mim seria mais fácil falar sobre alma penada ou alma gêmea. Preciso me inspirar urgente, pensei, mas onde?
Digitei no google as palavras "Bordados da Alma" para ver o que viria, queria ler algo apenas para saber que rumo tomar. Achei um poema e mais um monte de modelos de bordados para toalhas, fraldas, fronhas e até de cuecas. Li o poema, confesso que não compreendi onde entrava os bordados da alma, e a coisa se complicou ainda mais. Tô ferrada. Acho que vou pedir Nena para passar minha vez e recolher-me a insignificância de escrever o meu arroz com feijão de sempre. Decidi isto, seria isto, pedirei arrego para Nena, ela irá entender. Foi quando meu celular tocou.
-Alô, mãe? Reparei no DDD 034 indicando que o telefonema vinha lá das Minas Gerais, só poderia ser ela, uma vez que é a única que me liga.
-Não, é Halma, pode falar?
Halma é minha irmã - Sim, posso, respondi com uma voz animadinha: Tudo bem? Quanto tempo a gente não se fala?
- Escuta aqui, tô ligando para dizer que não quero mais que me envie estas mensagens bobinhas para meu e-mail. Quer saber mais? Não me escreva mais nada, não quero ter notícias suas, se você está com sua consciência pesada sobre o que fez e faz comigo, é problema seu. Ainda não percebeu que suas tentativas de aproximação não estão dando certo?
E continua as pancadas:
- São muito chatas estas mensagens com conselhos de Chico Xavier falando sobre perdão, reencarnação de irmãs, briga em família. Não tenho interesse em saber o peso espiritual de nossa briga, não me interesso em reconcilhar contigo, e não serão estes envios de mensagens com musiquinhas de Enya que me farão mudar de ideia. Detesto Enya.
Não te quero mal, mas não te quero perto.
Sem reação respondi:
- Mas Halma não podemos mais continuar rompidas, somos irmãs, o natal esta chegando e vamos nos ver em breve, e aí?
Continuei:
- Nosso perrengue já tem tanto tempo, sinto saudades, vontade de ligar para você, e as mensagens são tão lindas e emocionantes. Mesmo eu sabendo que não te fiz nada, dei o primeiro passo para nossa reconcilaição. Pensei que se você pensasse que eu tinha me arrependido (era este o plano), poderíamos devagarinho ir retomando os contatos.
- Pensou errado, respondeu ela. Você acha que cairei na sua armadílha? Eu sei o que você quer e já aviso que não vai conseguir. Tum, tum, tum, desligou o telefone.
Onde estava mesmo? Ah lembrei, escrevendo a Nena para dizer que não iria mais fazer o exercício, mas a dor na minha alma era tão grande que resolvi dar uma parada para tomar um café. Não consegui levantar para caminhar e um pranto imenso brotou de meu peito. Chorei, chorei, chorei. Relembrei as palavras crueis de Halma, reli as mensagens que enviei a ela e chorei mais ainda, pois, a mistura de Chico Xavier com música de Enya é = a lágrimas, que somadas as porradas de Halma, resulta em um sentimento terrível que não tenho como descrever. Mas, no meio deste turbilhão de emoções sofridas resolvi fazer um trocadílho com o tema proposto por Ângela Gurgel e o telefonema de minha irmã Halma.
Ângela Gurgel, perdoa usar seu lindo tema para contar as mazelas lá de casa, mas é que não sabia o que escrever sobre "bordados da alma" e desejava muito participar do grupo. Sei que porradas na alma, feridas na alma não devem ser exatamente o que você tinha em mente, mas, é o que estou vivendo no momento e sabendo falar sobre.
Vai passar, sei que a dor vai passar e esquecerei este fatídico telefonema. Continuarei a enviar minhas mensagens de pedido de perdão para Halma - sou sem vergonha - Quem sabe aquele coraçãozinho endurecido possa amolecer com as melodias das músicas da Enya (não, Enya ela não gosta, vou pensar em outra cantora meloza) e me perdoar.
Helba Otoni Credídio
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Bordados da Alma
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