Bordados de poesia


      
Nestes poucos meses em que participo do Encanto das Letras (vide rodapé) percebi que quando alguém do grupo está sem muita inspiração ou com bloqueios criativos mas não quer deixar de fazer o exercício, sempre começa o texto falando exatamente sobre isso, que está sem inspiração e criatividade e que não sabe sobre o que escrever. Isso acaba sendo um recurso criativo pois ao se falar sobre a falta de criatividade, naturalmente as palavras vão fluindo e o texto vai surgindo - a falta de inspiração torna-se inspiração para escrever. Essa estratégia até funciona mas, convenhamos, não é lá das mais criativas. E se todos têm o seu dia de seca criativa, pois bem, hoje é o meu.

      Tema do exercício: bordados da alma. Meu Deus, que falar sobre isso? Eu mal sabia o que eram bordados, tive que procurar no Wikipédia para saber. Tinha uma vaga noção que se mostrou correta mas a informação não ajudou em nada no meu bloqueio. E como relacionar algo que eu nem conhecia direito com a alma? É tema demasiado subjetivo, teria que enveredar para as vias poéticas. Mas não, infelizmente não corre em meu sangue os mesmos glóbulos poéticos de Pessoa ou Drummond, sou mais prosa que poesia, então optei, forçosamente, por prosear. A prosa é mais sólida e objetiva, até lógica, não tem a característica de nuvem que a poesia tem de ficar flutuando por aí ao sabor do vento, incorpórea e incapturável. Minha alma é mais numérica, não tem bordados de poesia. Bordados de poesia...

     E oras, vejam só, quase sem querer, deixando meus dedos baterem no teclado do computador despretensiosamente, acabei por chegar na frase que toca o cerne do tema deste exercício criativo: minha alma não tem bordados de poesia. É uma afirmação forçada, eu sei, pois nenhuma alma deste mundo de Deus pode não possuir poesia. De poeta, matemático e louco todos temos um pouco, como dizia meu professor. E se a prosa tem os pés no chão quem a escreve precisa ter a cabeça nas nuvens. Se olharmos bem perceberemos que a poesia está em tudo, até o enxugar de louça tem poesia quando usamos o pano de prato com os bordados da avó.  

      Sim! Sou poeta. Minha alma também tem bordados de poesia assim como a sua, assim como a de todos nós. Posso não saber tecer muito bem belas poesias mas sei modestadamente bordar algumas delas em prosas demoradamente costuradas - costuradas com a alma. Alma com bordados de poesia.


Novembro de 2010

Fonte da imagem
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Este texto faz parte do exercício criativo "Bordados da Alma".
Saiba mais, conheça os outros textos:
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