Bordados na Alma
- Helena! Olha o leite derramando...
- Ai, meu Deus!
- O que houve menina? Tá no mundo da lua?
- É... Me distraí pensando aqui.
- Ainda o Roberto?
- Não... Estava pensando numa coisa que eu ouvi, no elevador.
- Ouvindo a conversa alheia, Helena?
- Ué! Eu não sou surda. A dona lá falou, eu ouvi.
- E o que foi que ela disse que custou meu leite derramado?
- “Podemos chamar isso de bordados na alma”.
- Assim? Do nada?
- Não... Ela estava falando no celular... No final ela falou isso. Aí, eu desci.
- Ah! Tem gente que gosta de falar essas coisas pomposas...
- Tipo o tal de “beijo no coração”?
- Acho que este é pior. Fico imaginando a concretização disso.
- Como assim?
- Sei lá... Imagino abrir o peito de alguém, arrancar de lá o coração e beijá-lo.
- Eco! Que sangueira...
- Mas, me diga... O que você está pensando sobre o que a moça disse?
- Sei lá! O que será que ela quis dizer com isso?
- Diga você... O que é que você acha?
- Pois é... Fiquei aqui pensando...
- É... Senti o cheiro...
- Hein!?
- De neurônio queimado...
- Õ dona Zuleica...
- Brincadeira, Helena! Brincadeira. Mas, diga lá... O que você estava pensando?
- Bom... bordar é enfeitar, né?
- É!
- Então... Bordar a alma deve ser assim: a gente enfeita ela, deixa colorida e alegre, para entregar a Deus quando a gente for pro céu.
- E como é que se enfeita a alma, Helena?
- Fazendo o bem, ué!... Ajudando o próximo... Os mais necessitados...
- Nossa, Helena! Que lindo! Gostei de ver...
- Pois é, dona Zuleica... E, por falar em ajudar o próximo, eu estava aqui pensando... Será que a senhora não poderia me adiantar algum até o Natal?
- Helena!
- Ah, dona Zuleica! Sua alma ia ficar tão bonita, bordadinha desta caridade...
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Bordados da Alma
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