Cidade maravilhosa
Dias atrás um crítico sádico me detonou, me chamou de ‘verne nordestino’ e que, entre outros males, eu estaria com ‘bichice’. Meu Deus!... Será? Sempre fico martelando, quieto, calado sem ninguém ver... E o pior: em vez de me solidarizar com o povo carioca, fico rindo sozinho, como que escarnecendo... Mas a palavra não é esta, é uma que eu ainda não consegui encontrar.
Eu não rio da peleja do Rio; eu rio é dos parâmetros sociais que ‘sustentaculam’ a sociedade hodierna, com o aplauso de todos, inclusive da grande mídia...
Repito: tem alguma coisa no ar que minimiza, que descredibiliza, que me faz rir... O que poderia ser, meu Deus? Não pode ser apenas ‘bichice de um lixo sujo’, como disse o crítico, que me viu refletido em seu espelho mais íntimo.
Mas o sucesso do Estado é pleno, a libertação do povo finalmente chegou e os enfunados heróis, que ganham quase dois salários, poderão descansar; voltar para casa e rever a família... Terão medalhas?
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Não consigo pensar no rio sem rir... Uma fileira indiana de pés-de-chinelo correndo desesperados, policiais armados sobressaltados por balas enquanto dão entrevistas para o mundo... A grande mídia no meio do fogo cruzado... Uma maravilha, um Tropa de Elite II, ao vivo! Desta vez virá o Oscar!
E o querido Sergio Cabral? Tropas federais, armas de guerra... Quem seria mais descompromissado com a organização e a ética mínimas: o Estado ou o crime?
Ou será que tudo está normal e eu é que estou mesmo com um mal incurável? Preciso de um psiquiatra urgente.
Por enquanto, apago estes meus pensamentos torpes; guardo-os comigo, e vislumbro a Copa do Mundo e as Olimpíadas que aí virão. Ah se tivesse copa do mundo e olimpíada de descretinamento!...
E é isso... Havendo futuro, retorno.