AMAR É CARETA. SER FAMÍLIA, IDEM.

 

A modernidade pode nos confundir acerca de valores básicos. Um dos pontos mais vulneráveis dela é a moda das coisas serem e acontecerem, inclusive com os sentimentos. Se a moda é uma saia curta, uma calça jeans rasgada, etc., logo passa enquanto moda e outros adereços entram em seu lugar. Dependendo das circunstâncias, pouco prejuízo acarretará na estrutura social das pessoas, diante da adesão ou não de certos modismos. Contudo, há determinados usos que invertem um pouco essa lógica e passam a se constituir em dominação do capital com o objetivo de fragilizar a sociedade e, por conseqüência, os indivíduos. Dois exemplos a gente pode pinçar na tentativa de exemplificar um pouco esse segmento de alienação, principalmente dos jovens. O AMOR E A FAMÍLIA - dois sentimentos que os tempos modernos tentaram modificar sua essência, transformando-os em "utensílios" materiais como roupas, sapatos, etc. Nesse viés, entra a nova forma de verbalizar esses termos em função de que "amor" e "família" sejam démodé, fora de moda ou mais precisamente "caretas"...
A grande maioria dos nossos jovens usuários de drogas se diz "moderna". "Ficam" com suas namoradas, mas quando acontece um clima de romance caem fora; quando um colega de “tribo” mostra-se ainda ligado a sua família seus colegas de fumo chamam-no de "careta", estimulando-o a romper com os laços familiares. Com certeza outros desdobramentos existem neste mesmo exemplo e em outros dentro dos aspectos citados, pois o poder dominante do capital se utiliza do enfraquecimento valores morais para, contando com jovens desestruturados e sem limites, sirvam de presa fácil para dominação do sistema capitalista que de tudo tira lucro, inclusive da fragilidade humana.

Caminhando no mesmo diapasão da família esvaziada de valores sólidos, o amor enquanto resultante dos processos sociais sofre alteração de forma e de conteúdo. Concomitante, a educação básica fica comprometida em seu conjunto enquanto processo integrado com a família e o Estado. Este, o principal elemento definidor das políticas educacionais a quem competirá a responsabilidade pela formação dos cidadãos em sua plenitude... Mas que geralmente tem o “rabo preso” com os sistemas dominantes.

 

Em determinados momentos das nossas convivências, a gente logo identifica o aprofundamento dessa inversão conceitual em que a moda invade sentimentos para se estabelecer e fragilizar pessoas que, mais adiante irão se tornar sócias do capitalismo selvagem e seus mais diversos estratagemas. Em que pese o avanço dessas investidas, resta-nos a consciência de que o AMOR não é moda. A família não é moda. Esta pode até sofrer modificações como a que transformou a família patriarcal em nuclear, mas nunca deixará de ter o papel que a sociedade, durante o processo histórico, lhe atribui.

Os jovens que são vitimas da moda que institui valor ZERO a instituição familiar, dificilmente não buscarão ajuda para se recomporem na vida resgatando os valores tradicionais, principalmente de família. O amor entra nesta construção porque está contido na família de forma estrutural e mantenedora dos fundamentos maiores dela.

O substrato maior do ser humano é concedido pela relação familiar. O amor entra nesse bojo de forma linear, sem alarde, sem aclamação de prioridade. A prova disto pode ser tirada, mesmo sem uma pesquisa mais sistemática, diante dos jovens que traficam e que utilizam drogas, que são violentos. Isto porque na ótica da moda, é careta obedecer aos pais e professores. Do mesmo modo que careta é pensar em se casar, ter filhos, um bom emprego, formação universitária, ser do bem. Certamente que outra boa parte dos nossos jovens está no caminho certo, pois há famílias que não abriram mão dos seus filhos e apostaram no limite deles, na ordem, no respeito aos mais velhos e, conseqüentemente no amor. Mesmo sem a contrapartida da escola, esses pais e essas famílias heróicos estão nos dando lições. Mas a outra banda (podre) das famílias nos fornece os atores que nos fazem reféns da violência generalizada das grandes cidades.

Costumo sempre, nos casos de prisão de marginais de classe média, ver os pais diante das câmeras dizerem chorando: “onde foi que eu errei”? Dizem por que querem, mas sabem que, no fundo, falharam na hora em que deixaram seus filhos fazerem o que quiseram.  Outra constatação perversa: muitos pais contraem despesas financeiras sem poder. Endividam-se, comprometem o salário do mês sob a alegação de “quero que meus filhos tenham tudo que eu não tive quando criança”...

Finalmente, não podemos conviver com uma sociedade que inverte valores e que transforma sentimentos como AMOR E FAMÍLIA em moda. Repetimos: moda é a da calça rasgada, da saia curta, etc. Amor, família, fazer o bem, respeitar o próximo, etc., são sentimentos idiossincráticos que nunca serão a moda nos mesmos termos dos produtos perecíveis de consumo. Porque diferente dos produtos, estes por não serem vistos, pegados, só sentidos, poderão se instalar na sociedade como modo de vida. Talvez seja isto que já estejamos presenciando nas grandes cidades, mas não custa nada acreditar no AMOR e apostar na FAMÍLIA.