Jagunços debandados
Nunca a política estadual de segurança pública no Brasil foi tão incompetente para tratar dos assuntos de interesse público quanto às forças de repressão do Rio de Janeiro. Foi preciso uma verdadeira operação de guerra para prender um grupo de gatos pingados, além de produtos ilícitos abandonados – que apenas serão valorizados e melhor vendidos; incoerentemente a preço menos vil, dada à dificuldade de risco oferecida pelas forças militares. Economicamente tais operações são de grande sucesso para o mercado ilegítimo. Tais jagunços pingados que promoviam sem sombra de dúvida o horror, no que foi apontado como estados paralelos puseram-se em fuga. Fácil fuga entre mocambos que nunca faltaram na realidade dos vícios. Debandados devido à falta de ação surpresa dos exércitos chegando com as trombetas da televisão comentando passo a passo as ações ofensivas como se fosse um contra ataque futebolístico. Os facínoras em busca de heroísmo como nas séries televisivas correram covardemente numa tropelia de ratos.
Pela televisão temos a impressão que o restante do povo carioca não sofreu nenhum outro ataque vil de salteadores, punguistas, estelionatários e ou ladrões vulgares, durante a operação-guerra. Temos também a impressão de que ninguém mais fumará maconha alegremente ou se drogará diante da visão paradisíaca da cidade nos momentos rosáceos de descontração. Foi preciso um enorme contingente para criar a debandada desses jagunços desordeiros, trabalhadores do tráfico. As drogas ocultam a realidade até o seu reflexo filtrado. O verdadeiro filtro das manobras políticas de detenção aos costumes de uma era. A eterna necessidade de polarização de forças ocultando a miséria explícita.
O jaguncismo foi vencido. Haverá inclusão social de todos os favelados após o cenário de guerra? Granadas e metralhadoras não foram utilizadas contra o inimigo militar pelos jagunços e as balas de traçado assolaram a invisibilidade ágil dos mequetrefes favelados abrandados pela correria. As televisões fizeram a festa da pacificação sobre a carcaça de alguns desordeiros impedindo que as próximas gerações de homens, atentos, evitem sobre eles a peta de criminosos organizados. Verdadeira fuga de miseráveis desalmados ligados ao mercado ilícito, criaturas que trabalham para incontáveis, numerosos drogados urbanos, perdendo nessa ação de contenção sua idiótica condição de poderosos chefões de vilarejos.
Os drogados incalculáveis, partícipes inocentes, viram a boa maconha, liberada no Canadá, ser apreendida; logo compreenderam: a partir de agora a droga terá um custo elevado. Só os ricos pagarão mais caro o que representará um fortalecimento indesejável desses jagunços itinerantes. Os distribuidores que leram Sun-Tzu perceberão o quanto é inútil gastar dinheiro excessivo em armamento, inteligentemente não empregado no morro; pois não se deve lutar quando não se está em posição de vencer; principalmente contra o grande poderio militar. Irão além, compreenderão que seus satélites, estupidamente armados de vileza covarde, são dispensáveis, queimando a opinião pública. Somente jagunços ferozes e estúpidos chamam atenção do mundo para o trabalho ilegal dessa forma grotesca. Que esses criminosos organizados não são merecedores do nome de organizados, incluídos a partir de agora do crime desorganizado; resultante desse estágio mental. São monstros em busca de adrenalina e dinheiro como os rapazes de roupa limpinha. Desordeiros cursando suas vidas absurdas.
A lição aprendida pela televisão é a de fortalecimento do novo estilo de tráfico, silencioso, calmamente inofensivo, bem mais lucrativo em suas redes de sutileza. Que as centenas de “traficantes” apenas perderam toneladas de erva erradia. Erva que seriam fumadas em paz e amor pelos incautos como desejam os sonhos sobre a essência vegetal além de outros condimentos. A única certeza até agora desfrutada para o futuro é de que a descriminalização das drogas não move exércitos.
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