Os segredos e as revistas.
Toda vez antes da almoçar fumo um cigarro olhando para a vitrine da banca de jornal esperando que ela me diga alguma coisa, que o mundo mudou, porque a vida não é repleta de gente branca com corpos riscados, mulheres esteticamente perfeitas ostentando um cérebro no meio das pernas, e eu não estou preso em um mundo digital. Olho para as grades da sobrevivência, tomo banho de sol sentado em um trem fedido e lotado, durmo sobre um teto que não é meu e que consome metade de todo o meu dinheiro. Mas hoje e todos os dias que restam o mundo não mudará, ele continua a mesma coisa de sempre, o mesmo cárcere, as mesmas palavras ditas por corações presos na vida alheia, nos sonhos percorrendo os pratos sujos de um restaurante caro, na indiferença que passa sem notar a miséria que agoniza nos cantos das calçadas. Concordo com Bukowski, " o terrível da vida não é a morte, é a vida que as pessoas levam até a sua morte", e talvez por isso não queira ver meus cabelos ficarem brancos, ver o simbolo da minha velhice agonizar em uma cama de hospital, morrendo pela fumaça que um dia foi seu unico prazer, a morte caminhando a passos lentos, na velocidade das pernas enferrujadas de seu andandor, e que vida. No fim a vida é isso mesmo, não há sentindo ou razão, só o sofrimento de uns, as alegrias de outros, alguns momentos recheados por sorrisos que se vão com o fim de uma piada. O mundo continua o mesmo e eu na minha esperança juvenil agonizante de sonhos tumultuados que umideçem as noites, em vontades incontroláveis que mancham corações, caminhando sozinho para um rumo desconhecido onde está toda a incerteza que procuro sem encontrar nada. Uma noite inteira passa diante dos meus olhos, com segredos revelados e vontades desenhadas nos gestos que conduzem uma caneta que percorre sua boca como se fosse meu membro vivo pronto para sentir você e mesmo que alguns carros passem lá fora, mesmo que a vida inicie um dia diferente de coisas diferentementes iguais, o mundo continua o mesmo, frio como o toque na tela do caixa eletrônico quando a conta esta negativa, tão vazio quanto o atendente de telemarketing que dá um bom dia e diz que a puta-que-o-pariu agradece sua ligação, tão sem sentindo quanto tudo e tão real quanto a noite morrendo lá fora, expulsando as criaturas noturnas do meu olhar e fazendo crescer uma nova revolta. Amanhã talvez as revistas tenham mudado, mas as capas continuaram sendo as mesmas e tudo segue seu rumo, tão incerto quanto o clima de São Paulo mas com a certeza de que qualquer coisa pode acontecer.