Amor ou...
Rogéria espera junto a uma amiga pelo marido em uma esquina de um restaurante, localizado em um dos pontos turísticos da sua cidade.
“Nossa! Será que ele vai demorar muito?!”
“Sossegue Isaura, daqui a pouco ele chega. Mas, qual o motivo de toda essa pressa?!”
Diante do temor da amiga Rogéria começa a divagar sobre o tempo, e, recorda sobre um desenho que amava assistir; quando ainda era criança.
“Estou me lembrando de um clássico, produzido pelos estúdios Disney que assisti nos anos 70. Um desenho animado, inesquecível, cujo nome é Fantasia. Você se lembra?”
Diante da negação de Isaura, ela prossegue.
“O desenho tinha como fundo a música clássica de grandes mestres. Adorava o segmento entitulado a Dança das Horas, do Balé da Ópera La Gioconda, executado no terceiro ato denominado "A Casa de Ouro”, do italiano e, ainda não tão conhecido. Ah! O seu nome: Amilcare Ponchielli.
O desenho faz uma sátira ao balé clássico e mostra as horas do dia animado por um grupo de animais, ali aparecem avestruzes, hipopótamos, elefantes e jacarés.
Como eu tinha um complexo muito grande por ser magra, eu gostava de me imaginar como um dos hipopótamos fêmea do desenho; vestida de sapatilhas, saias de bailarina cor de rosa e volteando na ponta dos pés, e mesmo, com todo aquele peso fazendo graciosamente um grand écart! Para o meu sonho infantil aquela parte do desenho era o máximo!”
“Estou com medo de ficar aqui parada, sabe como é..., né! Melhor não dar sopa para o azar?”
Vendo, que a amiga não prestou atenção no que acabara de lhe contar ela fala.
“Não tenha medo, lá vem o segurança, sem dúvida, ele nos protegerá!”
Um homem alto, uns 30 a 40 quilos, acima do peso, caminha em direção as duas falando em um celular:
“Oi meu docinho, o que você está fazendo? Está assistindo a sua novelinha, meu anjinho. Está gostando da televisão nova? Diga para o seu amoreco; o que você está fazendo? Fala fofurinha! Te amo, viu, cocadinha do neném!
Silêncio!
“O quê? Sua vaca sem vergonha! Fale isso novamente que vou até aí neste exato momento encher a sua cara de porrada. Pensa que sou idiota sua cadela! Sua ambiciosa. Não está contente com a televisão de 14 polegadas que comprei no brechó do Cridão pra você?
Um pálio pára! O marido de Rogéria, enfim, abre a porta do carro para as duas mulheres trêmulas e assustadas entrarem!