Faixa de gaza no coração do Rio!

Porque tanta intolerância?!... Quem, de sã consciência, poderá surfar esta onda de violência, a não ser os senhores da guerra. Estupefato, constato que já não se colhem mais flores no jardim da esperança... Aliás, já não há mais esperança e o que fica no seu espaço é apenas um imenso deserto árido, cuja acidez de sua chuva inviabiliza qualquer florescimento de algum tipo de sentimento além do ódio.

Cadê a cavalaria que não chega nunca... As boas novas trazidas pelas estrelas cadentes que despontam no horizonte são agora balas incendiarias, foguetes que trazem apenas destruição do pouco amor que ainda resistia, tal qual os heróis da resistência! O céu de “Guernica” não é mais um delírio de um artista a frente de seu tempo ao testemunhar o pavor de uma guerra. É uma realidade nua com as carnes expostas em toda sua dimensão de crueldade, é um inacreditável presente que não passa e, que insiste permanecer como uma ferida que não cicatriza.

Quem somos nós?! E aqueles valores que nos foram ensinados? Aonde foram parar? Como é possível acreditar ou esperar algo diferente além desse tsunami de violência? Se o presente reflete a expectativa do futuro próximo... E aquele tesão de mudar o mundo quando como éramos jovens? Aonde foi parar? Será que fomos sufocados pela árida areia movediça da indiferença e nos deixamos capturar no cárcere da ilha do egoísmo? E todas aquelas retóricas de um mundo mais igualitário, que existia nos centros acadêmicos que costumávamos freqüentar ou mesmo o mundo que está na nossa “Constituição”... Cadê?

Antes a violência apenas gravitava em nosso entorno, mas agora ela é uma árvore frondosa dentro de nossos corações com imensas raízes. Policiais que matam pessoas honrosas... Cidadãos que se digladiam em pleno o trânsito... Pais que espancam e matam seus filhos sem razão alguma... Mães que jogam os frutos de seus ventres no lixo... Morrer ou matar é algo tão natural como assistir ao filme no canal preferido da TV... Nossas crianças são corrompidas de suas infâncias e muito antes de apreender a ler já sabem como funcionam as armas.

A vida deixou de ser uma dádiva para ser uma armadilha semelhante aos dentes do dragão. O pouco que resta de humano em nós está sendo triturado pelo moinho do ódio. Não existe chance de salvação porque a salvação já não faz mais parte de nossos horizontes. Como por exemplo, explicar que religiosos se matem pela primazia do conceito de Deus! Estamos vivenciando a falência do espírito humano! E isso era a única coisa que ainda restava e nos fazia sentir que éramos pessoas humanas. E agora?! O que fazer? Estamos perdidos dentro desse mundo artificial que tentamos criar para servir à nossa felicidade!

Perdemos o contato com o cheiro de verão, de manga, com a azul do céu, com o verde do mar, com o sorriso da criança, com a esperança do velho que espera, com alegria da manhã, com canto dos pássaros e com nós mesmo enquanto seres humanos.

Fomos extirpados da nossa sensibilidade, que é tão peculiar no homem pouco civilizado. O processo civilizatório gradativamente vai-nos desnaturalizando, e nos jogando para dentro de um artificialismo onde a fé dá lugar a “ciência”, ou seja, aquela afirmação do velho lavrador: “ vai chover” porque percebe longe o cheiro de chuva ou porque o seu cotovelo dói. A convicção do pescador que diz: “ hoje o mar não está para peixe”. Ou então o índio que sente longe a vibração do terreno com o andar de sua caça. Hoje é algo lendário fruto de fábulas que ainda resiste no presente. E o pior de tudo isso é que a poesia e o encantamento contidos em todas essas coisas simples estão se esvaindo de nós, assim como água esvai entre os dedos da mão. E o que fica é apenas esta sensação de vazio que é impossível preencher.

Na verdade, pela indiferença cada vez mais presente em nós, estamos nos tornando bestas desumanizadas. Porque estamos perdendo a nossa identidade humana, que é a nossa capacidade de imaginar mundos melhores. E quem sofre com tudo isso são os inocentes que cruzam os nossos caminhos. E se não estancarmos logo essa sangria de humanidade em nós, corremos o riscos de nos tornarmos desertos áridos, sem chance nenhuma que algum tipo de sentimento floresça em nós para nos resgatar dessa falência sem alma.

(Fábio Omena)

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 28/11/2010
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