RIO DE JANEIRO, DOIS MUNDOS SEPARADOS PELO MESMO ESPAÇO
Ontem eu ouvi um comentário de um repórter estrangeiro na TV que me trouxe a memória um episódio da minha vida quando entrei pele primeira vez em uma comunidade. O comentário foi mais ou menos assim: “É incrível como no Rio de Janeiro o bem e mal convivem tão próximos um do outro. Olhamos para um lado da rua e vemos uma cidade linda e na outra calçada a entrada para favelas onde imperam a violência e o crime. É o mal e bem convivendo lado a lado.”
Em 2002 quando Benedita da Silva assumiu o governo do Rio, iniciou-se um projeto (O Jovem Total) que tinha por objetivo levar cursos profissionalizantes aos jovens adolescentes das comunidades. Eram ministrados cursos se não me engano com duração de 3 meses, que dava uma bolsa no valor de 100 reais para cada jovem que mantivesse a frequencia exigida pela organização do projeto. Eram dados cursos de cabeleireiro, tranças afro, manicure, pintura em tecidos, corte e costura e outros tantos. Entre esses outros estava o curso de Restauração de Móveis, modalidade em que eu fui professora de uma das turmas.
Naquela época, pouca ou nenhuma divulgação eu vi por parte da imprensa eu vi sobre o trabalho que estava sendo feito, coisa que eu estranhei muito. O projeto tinha suas falhas, mas a ideia e a oportunidade eram maravilhosas. A intenção era dar formação profissional aos jovens, mas não de forma aleatória Eram cursos que permitiam aos alunos se tornarem empreendedores dentro da própria comunidade, montando seus pequenos negócios e quiça, até mesmo recrutando outros jovens para serem treinados por eles ou para trabalharem ao seu lado. Isso meus caros amigos, poderia ter evitado que muitos, tivessem se aliado ao tráfico. E mesmo fossem apenas alguns já seria uma vitória. Pois esses “alguns” seriam traduzidos no dobro ou mais de vidas que seriam salvas. Vocês tem ideia do que um jovem desse pode fazer com uma arma na mão? E indiretamente quantas vidas de viciados é influenciada por um jovem desses apenas? Eu também não sei o resultado dessa matemática, mas tenho certeza que é o número é bem maior do que 1.
Creio eu que por falta de vontade política o projeto caiu no esquecimento, uma vez que a Sra Rosinha Garotinho(governadora eleita) era rival de Benedita da Silva. E como de praxe, no Brasil um partido quando elege um governante, raramente leva avante os projetos sociais do rival derrotado. Em teoria pode ser que eu seja desmentida,mas na prática é o que a população vê no dia a dia.
O que mais me entristeceu na época em que terminou o projeto, foi o fato de eu ter visto com meus próprios olhos a esperança no futuro, sonhos, vontade de progredir na vida e a luta interna de cada um daqueles meninos, contra a tentação e às vezes até mesmo pressão que aqueles meninos sofrem no dia a dia para se juntarem as atividades relacionadas ao tráfico, tudo isso ser perdido por conta de falta de vontade política e ambição dos detentores do poder. Pior, ver a esperança transformar-se em desalento, falta de confiança no poder público e dessa forma, no argumento perfeito para que o mal consiga fazer o seu recrutamento. A FALTA DE PERSPECTIVA É UM SILOS MALTIDIO CAPAZ DE DETERIORAR SEMENTES QUE PODERIAM GERAR BONS FRUTOS. Não se iludam, muitas vezes esse caminho para aqueles meninos se mostra como a única alternativa para se conseguir comida, dinheiro e algum respeito na vida. Cabe aos governos não apenas tomarem medidas de repressão armada. Mas também educacionais e sanitárias(atendimento médico e saneamento básico) além de forças pacificadoras que mantenham a segurança a médio e longo prazo, dando assim condições para que essas medidas sejam implantadas e a confiança dos moradores conquistada. Isso que a TV diz é mentira! Morador de comunidade não gosta de polícia. Eles vivem constantemente no meio de fogo cruzado sendo maltratados pelos dois lados que ficam impunes na maior parte das vezes. A verdade é que até agora, ninguém se importou com eles. Os políticos querem os seus votos, os corruptos o seu poder de compra, os bandidos seu território, seus filhos e seus corpos como escudo e nós que não moramos em comunidades, não nos importamos com eles desde que não nos ameace ou perturbem É triste mais é verdade.
Mas voltando aos projetos sociais... Hoje ironicamente, o mesma imprensa que nenhum ou muito pouco destaque dá a projetos e medidas que podem mudar essa realidade, faz plantão nas entradas do Morro do Alemão ganhando rios de dinheiro na cobertura da guerra contra os traficantes.
O governo precisa cuidar mais efetivamente da população, de forma a preventiva de modo que os jovens tenham melhores perspectivas de viva com EDUCAÇÂO acadêmica e profissionalizante. A imprensa deve denunciar abusos, apoiar e divulgar medidas que mudem esse realidade e NÓS, o povo, devemos parar de nos comportarmos como avestruzes e deixar de ignorar o realidade que nos rodeia. Pois somos nós, O POVO, que elegemos os nossos governantes e temos mais do que o direito, O DEVER, de cobrar deles atitudes e medidas mantenedoras da nossa saúde, educação, trabalho e e segurança. E não nos esquecermos que moradores dos bairros de classe média, de classe alta, da favela e do asfalto... NÓS somos o povo!
Eu cresci ouvindo dizer que brasileiro não tem memória. Eu espero que isso mude agora e que as imagens que vimos no Rio de Janeiro durante os últimos dias não sejam esquecidas. Pois quando o mal ganha espaço ninguém está seguro. Nunca se esqueçam.
“PARA QUE O MAL TRIUNFE, BASTA QUE OS BONS NÃO FAÇAM NADA.”
“A IMPRENSA É O QUARTO PODER.”
“LEIS MÁS É O PIOR TIPO DE TIRANIA..”
(Edmund Burke)
A OCUPAÇÃO DO MORRO DO ALEMÃO NÃO É O FIM, MAS O INÍCIO. A batalha pode ser vencida em um dia, mas a paz, conquista-se ao longo dos dias.
Pergunta que não quer calar:
Se o Morro do Alemão estava fortemente cercado, aonde estão os mais de 600 bandidos que estavam lá? Se não presos ou mortos, como furaram o cerco?
Paz, sabedoria e consciência social é o meu desejo a todos ...