MENINO AVÕ JOAQUIM, MENINO NETO KLAYSSON- VAMOS MORRER COM DIGNIDADE

Joaquim, Eu e Klaysson

Estava só de sunga branca, todo molhado ainda do banho recém tomado, pensava na prova de Geografia que teria de fazer naquela noite, eram perto de seis horas, o quarto abafado com telhas de Brasilit ficava nos fundos da casinha, feito para evitar o barulho que provinha do Video Game que nós tínhamos na frente da Casa. De repente a Voz de minha mulher dizendo que não me apavorasse que não era brincadeira dos meus amigos, que era um assalto, só depois compreendi que havia um rapazote seguindo-a com uma arma em punho, fiquei sem ação. O cara me pediu calma gentilmente, que não me aproximasse do guarda roupa, em seguida trancou minha mulher no banheiro contíguo, e disse que ficasse ali quieta que nada iria me acontecer, meu menino mais novo veio correndo, empurrou o assaltante, e eu depressa lhe pequei e o pus na cama pedindo para se acalmar, ele gritava pai estão quebrando tudo, bata nele, dê nele pai. E eu pedindo calma, que explicação eu poderia dar? Ah Nô, um pai covarde se lhe deparou nesta hora que se espera um herói!

O resto do meu dia fiz comparações da minha geração, realmente tudo nos punha na linha da covardia, o policial em entrevista dizia: Não reaja de maneira alguma, entregue tudo. Eu pensando “ mas os caras estavam roubando seus bens e o pior, estuprando sua filha e sua mulher!!,. mas o policial insistia que o cara morreu porque reajiu, pode? Então pode um ser agüentar quieto vendo sua família ser dizimada? Seu suor e sua vida ser violentada assim, e o representante daquela instituição que jurou nos proteger e defender, dizer: fique quieto covardemente, deixe todos morrer e sofrer contanto que não reajas para que mesmo? Para não morrer também, mas e se no final for morte, o que nos garante destes embrutecidos marginais enlouquecidos por drogas e vontade de ter sem esforço? E o que nos importa continuar vivos com o peso da nossa covardia e da morte dos nossos em todos momentos do resto de nossas vidas?

Foi aí que Joaquim se me apareceu, veio vestido de sua época, o linguajar era do inicio do século XX, orgulhosamente ele me pedia para ser homem, não borrar as calças e reagir, lembrava que se todos na população se acovardassem, aí o vencedor seria o mal, Não valera à pena tanto sacrifício da sua geração, para que as gerações posteriores fosse um bando de covardes cabisbaixos, fedendo a suor de covardes infames. Sou menino, mas sou seu avô, exijo respeito e dignidade.

Klaysson do outro lado, vinha com uma roupa esquisita, parecida com as roupas do século XV, mas era de um tecido que mudava de cor, que me explicou, de acordo com o calor ambiente e a vontade do dono, bem vestimentas á parte, ele estava reclamando da herança herdada de nós neste presente. Herdamos um planeta semi devastado, onde não houve nada que substituísse a religião no espaço vazio em que a espiritualidade fora abandonada desde a revolução industrial, fora preenchido por corporações que ditavam regras imediatamente obedecidas sem questionamentos, a população amordaçada na sua covardia hereditária. Os bandidos se abarcaram ao poder, elegeram presidentes, deputados, A Justiça era deles, enfim criaram outra constituição, dominaram tudo e agora a oposição é de bandidos querendo a boquinha. Pensei nada diferente do que já está acontecendo. Joaquim se enfezou e tentou me dar um pontapé, Klaysson sorriu amarelo e me pediu humildemente que pelo menos nossa geração de covardes dessem para a geração deles ao menos algo para preencher o vazio da espiritualidade, algo a quem apelar quando não havia ninguém e nada sobre a terra que os pudesse ajudar e socorrer.

Nem na minha época atual eu tinha o que dizer, sei que pode parecer esquisito, mas nós só temos a Deus para recorrer, mas assim como a natureza foi expulsa de junto de nós, assim que usamos detergentes, desodorantes, e aerossol contra a natureza, acho que fizemos o mesmo com nosso Deus interior, a parte do supremo que está em cada um de nós, parece que atrofiou como certos órgãos que não tem mais serventia para nossa modernidade. Assim sem norte espiritual, presos na ambição tecnolígica, praticamente sem alma, ou somos os fortes bandidos ou somos os fracos covardes da massa desta sociedade.Mãos ao alto mano perdeu

Alto lá manos se perdemos, talvez uma reflexão nos faça reagir, morrer todos vamos, então morramos dignamente e se viver todos estamos, então procuremos o Nosso Deus que nosso Aerossol mandou para longe de nós.