Velha Vida
Pois o tempo, finito, passa depressa. Desabrocha feito pétalas, e logo ali, se vai. Envelhecemos. Não são as rugas, nem as dores ou os netos, são as experiências senis as mais valiosas. Experiências adquiridas em becos, ruelas, bares, conversas, perdas e ganhos. Ao olhar o mar sentado na areia, ao rir de alguma bobagem, ao ver a formiga, sôfrega, carregar alimento, os pássaros cantarem, a chuva e o sol. Vamos envelhecendo aos pouquinhos. E isso basta. Não descansaremos jamais, e dormiremos muito depois da vida. Esta é a hora certa de viver, de arregaçar as mangas, alongar os músculos, tirar a poeira e correr. Envelhecer feito fruta madura, feito o poente do sol, um arco íris. Envelhecer é pregar incertezas, aconselhar crianças, é decidir. É errar, e errar quantas vezes forem necessárias, e, humildemente acertar. Amar, como Drummond, malamar.
“Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?
Amar e esquecer?
Amar e malamar
Amar, desamar e amar”
Envelhecemos ao nascer, sossega-se quando se morre. A morte é parar de envelhecer. A morte é dormir, refazer, sonhar. Enquanto isso, vamos vivendo, de todas as maneiras.