OS SONS DO AMANHECER …..
….são únicos, inigualáveis, diferentes a cada dia. Talvez comece com meu preguiçoso bocejo , continuando com o estalar dos ossos à medida que gostosamente estico bem as pernas e os braços , sem nenhuma pressa de pular da cama .
Pela minha janela observo que o dia ainda não nasceu totalmente e aos poucos vou percebendo que a minha volta as formas vão deixando de ser sombras e começam a tomar suas formas e características habituais, como estivessem acordando para a vida.
Escuto o primeiro arrulho dos pombos travessos que instalados sem nenhuma cerimônia na parte mais alta do telhado da minha casa saem em busca de comida ou aventuras ou quem sabe, as duas coisas juntas e não necessariamente nesta ordem .
Chego a janela , respiro o doce ar matutino , apuro os ouvidos e escuto ao longe o buzinar do padeiro que todos os dias, bem cedinho e ao final da tarde dá uma volta pelas ruas do condomínio.
Já houve manhãs em que pretendia dormir até mais tarde e foi justamente aquela buzina chata, desafinada e rouca que me acordou . Não reclamei porque em outras ocasiões em que esqueci de colocar o relógio para despertar foi justamente ele, o amigo da buzina chata que me despertou .
Ainda presenciando a chegada de tímidos raios de sol , minha atenção se voltou para o barulho do portão da garagem do meu vizinho e o interessante é que só escuto esse ruido ao amanhecer. Não que não abram o portão outras vezes durante o dia mas talvez, outros sons mais fortes e penetrantes abafem aquela que não deixa de ser uma marca registrada dos meus amigos vizinhos .
Vejo que a árvore na calçada em frente permite que suas folhas balancem com suavidade e fechando os olhos, consigo ouvir aquele, digamos, farfalhar de folhas e isso faz com que alguns passarinhos também despertem.
Em muitas manhãs sinto uma saudade quase que incontrolável daquela cidade do interior que conheço tão bem. O seu amanhecer me oferecia um verdadeiro coral de pássaros que me despertava agradavelmente .
Fechando os olhos, prendendo a respiração para que não provocasse nenhum outro som, podia ouvir perfeitamente o rolar das águas mansas e cristalinas de um generoso rio que passeava displicentemente nos fundos do imenso quintal daquela casa.
Na cidade grande existem outros sons, bem diferentes daqueles que tanto gosto, que tantas saudades me trazem . Eram os grilos que se despediam da noite enluarada e as abelhas que pareciam trocar de turno no vai e vem incessante da colmeia que ficava pendurada numa árvore bem próxima da minha janela.
E o canto do galo madrugador, de enormes pássaros que voltavam ao ninho com o que seria o café da manhã dos barulhentos filhotes ? Que saudade !
Pouco depois , já no chuveiro e deixando uma água morna escorrer pelo meu corpo, escuto o leve estrondo que o jornal faz ao cair na minha varanda. O entregador é pontual e faça sol ou chuva ele nunca deixou de cumprir sua missão. Não pude evitar um sorriso.
Em seguida , as primeiras noticias pela TV , o ruido do portão da minha garagem e do motor do carro saindo em direção do trabalho de sempre.
Já não sentia aquele silêncio absoluto se bem que, refletindo a respeito , nunca tive muita certeza se existe de fato um silencio absoluto.
Mesmo nas madrugadas em que vou para minha varanda mágica apreciar o faiscar das minhas amigas estrelas de diamantes, mesmo sem vizinhos abrindo seus portões e o padeiro buzinando, ainda assim, fechando os olhos e me concentrando sempre posso escutar o pulsar do meu coração .
E no amanhecer, como meu coração pulsa por.....
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(.....imagem google.....)