O Curioso

Reparava atentamente ao tempo como a muito já devia ter feito, mas um delírio fez com que deixasse sua concentração jogada ali debaixo da mesa para sentir uma estranha saudade que vinha de longe, com cabelos alisados, capa e de chapéu. Serviu o café, esta não aceitou, mas sentou-se a mesa e lá colocaram o papo em dia. O sujeito teve que ser forte para não chorar, mas a senhora encapuzada esticada sobre seu corpo que no mínimo fazia-lhe uma sofrida cócega, era ainda mais. A tortura fez-se até ruídos que vinham de fora, interromper. A saudade tremida de medo saltou desesperadamente pela janela e frustrada com o fato, de forma inexplicável desapareceu. Aquele senhor, ali permanecia só que estava rendido pela curiosidade, ela que agora tomava ousadamente o lugar da saudade em sua mesa. A visitante sem perder tempo abusou de sua calma e fez com que o corpo do sujeito se portasse de forma estranha. Ele, vencido pelo impulso foi até a porta e abriu. Teimoso! Um tolo ficaria melhor, naquele instante, ele sentia que mais valia a morte do que ficar ali parado sem saber do que enfrente a sua própria casa acontecia. A impaciência era forte, até incompreensível era seu ato de toda manhã comprar jornal se de todas as noticias que ali presentes estavam ele já sabia. Tinham noticias que o sujeito sabia antes mesmo de acontecer como o assassinato da mulher do prefeito ou o roubo do mercadinho que ficava do outro lado da cidade. Não é que ele fosse vidente, mas estranhamente era privilegiado. Onde qualquer coisa acontecia, ali estava o tal sempre com uma câmera em um dos bolsos e o chaveiro da sorte no outro. Por isso, até chegou a trabalhar no jornal, mas fora mandado embora por suas ambigüidades não poéticas que confundia a todos que corrigiam inclusive o computador. Mas não era só, a criatura tinha um português medonho, culpava a mãe por não ter deixado que concluísse a escola, parou na quinta série, mas se este realmente tivesse que culpar alguém que não fosse o próprio, metesse a culpa no desanimo que não deixara concluir nos dias de hoje, como um vagabundo feito ele, podia. O chefe do jornal tentou várias vezes fazê-lo mudar de idéia, a fim de convencê-lo a estudar para ganhar um ótimo funcionário, mas Joaquim como era conhecido (ou seu Jôa), se pudesse, ignorava até a morte já que já fazia isso com a vida. Até ouvia, mas depois dizia horrores ao pobre conselheiro de trabalho, sendo assim, já estava na cara que uma hora isso ia acabar acontecendo.

Ao olhar para fora viu a vizinha que conversava com o marido. O marido toda vida tivera uma queda por ela ao mesmo que ela preferia seu Jôa ao próprio marido. Estavam discutindo, entendeu Jôa reparando nos gritos do casal. Intrometido foi querer dar palpite sem dar ouvido aos “ditos” do povo.

O marido da mulher educado apesar de indignado com ridícula atitude, pediu para que Joaquim fizesse a gentileza de se retirar dali. Mas o convidado a sair, ali permaneceu. O homem de aliança ainda pediu mais duas vezes para que dali fosse embora e foi ignorado. Até que do bolso do vizinho foi sacada uma arma e apontada diretamente pelo irritado bom homem em Joaquim. O vizinho ameaçava a atirar caso o tal não saísse. Mas o enxerido, duvidando da atitude continuou ali e foi então que tomou três tiros na cabeça. A mulher sem saber ao certo o nome da vitima mesmo com aqueles sentimentos, ainda gritou, mas foi em vão, lá estava o marido preso e o amor de sua infância caído morto no chão.

Taty Sb,

Taty Sbrugnara
Enviado por Taty Sbrugnara em 26/11/2010
Código do texto: T2638251
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