Violência e violência

Dia D no Rio e o menino

Sou morador do Rio de Janeiro, aliás, sou do Rio. Nascido no Hospital Carlos Chagas, numa quarta-feira de cinzas, no ano de 1969. Nunca pensei em mudar de cidade apesar dos pesares, e que pesares.

O que vi na televisão na tarde de quinta-feira foi, antes de tudo, um momento muito triste da historia do estado, e porque não dizer do país. Vi a competente ação policial e a fuga dos bandidos. Ouvi na imprensa os discursos políticos que enfatizaram o Dia D da retomada da ordem no nosso estado.

Antes, porém, permita-me desabafar uma história: Um menino,12 anos, morador da mesma comunidade reportada, filho de uma mãe que sofre há anos com bronquite e que a cada tentativa de tratamento numa Unidade de Saúde, a resposta é negativa. Assim a auto medicação é inevitável, já que a tal mãe precisa trabalhar para que haja alguma comida em casa, para fortalecer a merenda da escola do menino, que passa a maior parte dos dias da semana sem aula e aí a comida fica mais rara já que o menino tem que comer em casa (entendeu?).

O menino não tem festa de aniversário. Não vive o Natal comercial. Usa roupas doadas por uma igreja local e brinca com o que inventa com latas e garrafas deixadas nos guetos, onde de vez em quando vê os cartazes de uma gente de gravata num belo sorriso. É gente, um menino! e como todo menino, entende do seu jeito, a marca da vida e assim como todos nós, pensa em melhorar de vida. Cuidar da mãe e dos irmãos.

E nesta realidade surge uma proposta daquele que desfila na comunidade com carrões e "pega" as mulheres mais bonitas. Aquele que de vez em quando, safa sua família comprando o remédio da mãe. Aquele que é o herói. A proposta? trabalhar na boca. R$100,00 por dia. Caramba? nunca viu tanto dinheiro!!! Sem querer estigmatizar a pobreza como desculpa para a bandidagem, mas sinceramente, o que fazer?

Talvez seja maluquice o que estou propondo, mas quem pode responder por ele. Quem vai dizer que o bem que ele recebe do tal "herói" é na verdade a venda da alma? Alguém vai dizer para o menino que ele tem que estudar? Ou que tal que ele e sua mãe tem direitos?

Tal situação se resolve num único dia? O chamado Dia D vai também fazer com que haja uma revolução da educação do nosso estado? Será que a munição disparada é sinônimo da presença do Poder Publico na vida dos meninos da comunidade?

Sinceramente e tristemente me recolho já que não tenho as respostas, só as acusações.