VIADO
É VIADO
Lá pela época de meus doze anos aconteceu algo inusitado que me mudou pelo resto da vida.
Eu um primo da minha família paterna vivíamos com mania de herói. O nome dele é Edmo. Ele morava em Goiânia e eu em Anápolis, e nas férias escolares a gente invertia e em cada uma delas um ia para casa do outro e vice-versa.
Desta vez estávamos em minha casa e nas horas de lazer que praticamente era o dia todo, fomos ao “buracão”, junto com um bando de outros pequenos heróis da nossa infância, era um local onde os comerciantes de arroz descarregavam as palhas depois de beneficiá-los.
Normalmente algum deles botava fogo nas palhas e em quanto incineravam vinha mais palhas e eram jogadas sobre aquelas em fogo.
Entre uma e outra surgia uma camada de cinza branca em alta temperatura.
Sabíamos do perigo, mas como havia virado rotina amarrávamos as camisas em volta do pescoço e daqui para ali, Super-Homem ou Capitão Marvel em ação.
Um dois três pula o primeiro e logo após o segundo,
após rápidos segundos “pumba” estamos lá embaixo.
Ai, ai os pés atingiram as palhas em fogo. Demos rápidas cambalhotas atingindo o rego d’água no fundo da mossoroca.
Os outros garotos sentindo o nosso drama não pularam, mas vieram nos socorrer por uma escada tosca no barranco.
Com muita dificuldade e com as solas dos pés queimadas conseguimos sair dali bem como chegar a minha casa, o irmão do meu amigo o esperava para voltar à capital...
Com aplicação de receitas domésticas fui medicado, mas impunha-me um castigo, não podia caminhar por alguns dias.
O pior o que fazer imobilizado durante tanto tempo?
A afilhada d minha mãe me deu uma receita de passar tempo: Bordar isto é aprender.
Topei de cara embora aqueles gestos afeminados de mexer com agulha não está em meu caráter.
Um agregado de meu pai que só andava de bicicleta parou na porta do alpendre quando me viu com pano, agulha e linha de bordar na mão, começou a rir falando:
- Para com isso “viado”...
Goiânia, 25 de novembro de 2010.