Pesadelo, axé e pagode

O sol estava castigando meus ombros, sentia o suor escorrendo pela face, ardendo o olho, um calor intenso. No ar o cheiro de cigarro (sou ex-fumante chata) e, ainda por cima, meu corpo até trepidava ao som de uma música horrorosa que dizia “...toma negona, toma negona, toma negona na boca e na bochecha...”.

Na minha agonia, pensei: isso é um pesadelo, vou acordar e tudo vai estar calmo, tranqüilo, vou poder ouvir minha música bem elaborada com uma linda melodia, sentar em frente ao ventilador ou no ar condicionado, em um ambiente odorizado.

Abri os olhos devagar.... mas a agonia continuava. Eu estava em minha cama... mas não era um sonho!! Meu vizinho ouvia isso que ele chama de música em um volume absurdo! E, ciente de que alguém poderia chamar a Sucom, ficava abaixando e levantando o volume, o que irritava um pouco mais. Não sei por qual motivo, meu ventilador tinha parado... e o cheiro de cigarros vinha da janela, onde um filho de Deus fumava tranquilamente, tomando uma cerveja e acompanhando (de forma bem desafinada, mais que a original) a tal imitação de música que tocava.

Naquele momento, e em meio a uma insuportável dor de cabeça, tive ódio. Ódio de baiano, ódio do axé, ódio do pagode, ódio de cigarro, ódio do calor da Bahia e, principalmente, ódio do baiano axezeiro e pagodeiro que, para minha infelicidade, era meu vizinho. Eu o matei lentamente na minha imaginação. Coloquei um som amplificado com uma música clássica (quer castigo maior para axezeiros e pagodeiros?) e explodi seu tímpano. Queimei-o amarrado em uma fogueira ao som de Trenzinho Caipira e o asfixiei ao som de Cálice.

Nada disso resolveu meu problema. O vizinho continua ouvindo sua música ruim todo fim de semana e feriados, me acordando às 7 h do domingo ao som de Layrton e seus Teclados (conhecem? Ah, eu conheço!) e Silvano Salles, que talvez sejam as piores coisas que já ouvi em toda minha vida. Não me chamem de preconceituosa, mas eu não imponho meu gosto a ninguém, só peço respeito aos meus ouvidos sensíveis. E RESPEITO é uma palavra que ALGUNS pagodeiros, axezeiros e sertanejos não conhecem, infelizmente.

Sol Sampaio
Enviado por Sol Sampaio em 25/11/2010
Reeditado em 26/11/2010
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