Ladrões natalinos
Semana passada, saía eu de uma agência bancária, e vi um jovem sendo preso pela polícia. Era por volta de dez e meia da manhã. O expediente mal havia começado. As caixas, minhas amigas, ainda contavam o dinheiro recebido do gerente e iniciavam seus computadores.
Ele era negro e tinha entre 20 e 25 anos, aproximadamente. Nada mais do que isso. Pelo menos foi o que pude avaliar, depois de enfrentar o tumulto que a diligência policial havia instalado em uma das mais movimentadas avenidas de Salvador
Os PMs agiram rápidos. Dominaram o meliante, logo após ele haver surrupiado, bruscamente, a bolsa de uma anciã que atravessava a rua sem se aperceber que estava sendo seguida.
Momentos antes, ela deixara o banco, e caminhava, com a lentidão da idade, pela calçada, contando cédulas, quando tudo aconteceu. Soube depois, que a grana roubada era parte dos seus proventos de aposentada pelo INSS.
O pessoal que presenciava a ocorrência policial se dividia entre aplausos retumbantes e estrepitosos xingamentos.
Todo mundo parecia querer tirar uma lasquinha do infeliz punguista que, assustado, negava o delito, apelando, dramático, para o espírito natalino dos soldados enfurecidos.
O ladrão foi levado a trancos e barrancos para uma delegacia. Não me disseram qual delas, e eu não me interessei em sabê-lo.
Mais recentemente, aconteceu num Shopping.
Desta feita com um cidadão que não tinha mais do que 40 anos de idade.
Fora flagrado saindo de uma loja de departamento carregando, na sacola, duas caixinhas de micro-lâmpadas coloridas; aquelas que, num pisca-pisca irritante, ajudam a encher de cores as noites de dezembro.
Só escutei, com algum esforço, ele, já nas garras dos seguranças furibundos, justificar, assim, o furto: as pequeninas lâmpadas iriam enfeitar a árvore de Natal do seu filho, um garoto paraplégico...
Sumiram com o larápio pelos corredores quase intransitáveis do Shopping, enquanto se ouvia, em acordes maviosos, criancinhas cantando "Noite Feliz"...
Um amigo - quando eu me preparava para jantar - telefonou-me para dizer que acabara de ser assaltado no ônibus que faz a linha Praça da Sé- Pituba, nosso bairro.
Explicou-me que voltava para casa, poucas horas depois do Angelus.
O ladrão levara seu relógio, seu celular e sua carteira de cédulas, com o retratinho da Margarida, 15 anos, sua neta.
Ao atacá-lo, o larápio pediu-lhe desculpa pelo "incômodo"! E justificou o assalto dizendo que estava desempregado e não deixaria "jamais" seus seis filhos sem um panettone, na ceia natalina
O amigo disse ter agradecido ao canalha a sua maneira gentil de tê-lo assaltado. E ao larápio desejou um "Feliz Natal!".
Lá pra tantas terminou me confessando ter lamentado "enormemente" a perda do seu relógio, um presente de sua amante, no último Natal...
(Só então pude entender por que o amigo andava assobiando tanto e distribuindo sorrisos à toa. O que uma amante é capaz de fazer...)
E fechando o papo, ainda caçoou: "O presente de uma amante tem um valor inestimável: vc sabe muito bem disso."
Limitei-me a fazer-lhe esta observação: eu, heim?
O Natal me leva a reler o que os cronistas de verdade andaram escrevendo sobre a noite do nascimento do "divino infante".
Dei, por exemplo, boas risadas com uma crônica do Carlos Drummond, intitulada Neste Natal, escrita não sei quando.
Com certeza, bem antes do seu amado Rio de Janeiro mergulhar no inferno que a mídia tem mostrado ao mundo.
Com a graça que sempre dá aos seus textos, o Carlos fala sobre "um falso velhinho, conspurcador das vestes amáveis " de Papai Noel flagrado furtando, de uma loja, um radio transmissor.
Descreve a prisão do falso Papai Noel, para, no final, orientar como deve o cidadão comum se precatar contra a ação dos ladrões que, no Natal, perambulam pela cidade.
Há um momento em que Drummond chega a propor a supressão da Noite de Natal, o que, segundo ele, poria um fim ao que chama de "especialistas em furtos natalinos".
Não comungaria com a tese do poeta de Itabira de excluir o Natal do nosso calendário. Sou um fã, até um pouco exagerado, da festa do Natal.
Haverão de perguntar por que escrevo uma crônica policial, no limiar do Advento.
Achei que escrevendo sobre ladrões e furtos natalinos estarei, também, ajudando os amigos a atravessarem o Natal, como disse o Carlos, " à salvo".
Com esta mesma intenção não teria o Drummond publicado Neste Natal, também uma crônica polical?
Falem os que me leem.
Semana passada, saía eu de uma agência bancária, e vi um jovem sendo preso pela polícia. Era por volta de dez e meia da manhã. O expediente mal havia começado. As caixas, minhas amigas, ainda contavam o dinheiro recebido do gerente e iniciavam seus computadores.
Ele era negro e tinha entre 20 e 25 anos, aproximadamente. Nada mais do que isso. Pelo menos foi o que pude avaliar, depois de enfrentar o tumulto que a diligência policial havia instalado em uma das mais movimentadas avenidas de Salvador
Os PMs agiram rápidos. Dominaram o meliante, logo após ele haver surrupiado, bruscamente, a bolsa de uma anciã que atravessava a rua sem se aperceber que estava sendo seguida.
Momentos antes, ela deixara o banco, e caminhava, com a lentidão da idade, pela calçada, contando cédulas, quando tudo aconteceu. Soube depois, que a grana roubada era parte dos seus proventos de aposentada pelo INSS.
O pessoal que presenciava a ocorrência policial se dividia entre aplausos retumbantes e estrepitosos xingamentos.
Todo mundo parecia querer tirar uma lasquinha do infeliz punguista que, assustado, negava o delito, apelando, dramático, para o espírito natalino dos soldados enfurecidos.
O ladrão foi levado a trancos e barrancos para uma delegacia. Não me disseram qual delas, e eu não me interessei em sabê-lo.
Mais recentemente, aconteceu num Shopping.
Desta feita com um cidadão que não tinha mais do que 40 anos de idade.
Fora flagrado saindo de uma loja de departamento carregando, na sacola, duas caixinhas de micro-lâmpadas coloridas; aquelas que, num pisca-pisca irritante, ajudam a encher de cores as noites de dezembro.
Só escutei, com algum esforço, ele, já nas garras dos seguranças furibundos, justificar, assim, o furto: as pequeninas lâmpadas iriam enfeitar a árvore de Natal do seu filho, um garoto paraplégico...
Sumiram com o larápio pelos corredores quase intransitáveis do Shopping, enquanto se ouvia, em acordes maviosos, criancinhas cantando "Noite Feliz"...
Um amigo - quando eu me preparava para jantar - telefonou-me para dizer que acabara de ser assaltado no ônibus que faz a linha Praça da Sé- Pituba, nosso bairro.
Explicou-me que voltava para casa, poucas horas depois do Angelus.
O ladrão levara seu relógio, seu celular e sua carteira de cédulas, com o retratinho da Margarida, 15 anos, sua neta.
Ao atacá-lo, o larápio pediu-lhe desculpa pelo "incômodo"! E justificou o assalto dizendo que estava desempregado e não deixaria "jamais" seus seis filhos sem um panettone, na ceia natalina
O amigo disse ter agradecido ao canalha a sua maneira gentil de tê-lo assaltado. E ao larápio desejou um "Feliz Natal!".
Lá pra tantas terminou me confessando ter lamentado "enormemente" a perda do seu relógio, um presente de sua amante, no último Natal...
(Só então pude entender por que o amigo andava assobiando tanto e distribuindo sorrisos à toa. O que uma amante é capaz de fazer...)
E fechando o papo, ainda caçoou: "O presente de uma amante tem um valor inestimável: vc sabe muito bem disso."
Limitei-me a fazer-lhe esta observação: eu, heim?
O Natal me leva a reler o que os cronistas de verdade andaram escrevendo sobre a noite do nascimento do "divino infante".
Dei, por exemplo, boas risadas com uma crônica do Carlos Drummond, intitulada Neste Natal, escrita não sei quando.
Com certeza, bem antes do seu amado Rio de Janeiro mergulhar no inferno que a mídia tem mostrado ao mundo.
Com a graça que sempre dá aos seus textos, o Carlos fala sobre "um falso velhinho, conspurcador das vestes amáveis " de Papai Noel flagrado furtando, de uma loja, um radio transmissor.
Descreve a prisão do falso Papai Noel, para, no final, orientar como deve o cidadão comum se precatar contra a ação dos ladrões que, no Natal, perambulam pela cidade.
Há um momento em que Drummond chega a propor a supressão da Noite de Natal, o que, segundo ele, poria um fim ao que chama de "especialistas em furtos natalinos".
Não comungaria com a tese do poeta de Itabira de excluir o Natal do nosso calendário. Sou um fã, até um pouco exagerado, da festa do Natal.
Haverão de perguntar por que escrevo uma crônica policial, no limiar do Advento.
Achei que escrevendo sobre ladrões e furtos natalinos estarei, também, ajudando os amigos a atravessarem o Natal, como disse o Carlos, " à salvo".
Com esta mesma intenção não teria o Drummond publicado Neste Natal, também uma crônica polical?
Falem os que me leem.