GUERRILHA URBANA: COMO RESOLVÊ-LA?
Para nós que vivemos longe do Rio de Janeiro, só temos a lamentar o sofrimento da população pobre que mora na periferia e vê a guerrilha acontecer ao lado de suas moradias. O curioso é que quando ouvimos alguém chorando um ente querido atingido pela truculência, ninguém questiona de onde saiu o disparo, pois sempre são os militares os culpados. Isso mostra que estamos criando a cultura do crime, pois as comunidades são reféns da geografia, considerando que moram ao lado do bandido e este compra a sua solidariedade, dando-lhe aquilo que lhe devia ser dado pelo Estado.
O fato é que estamos em plena guerrilha urbana, onde o submundo do crime, com um arsenal à sua disposição, enfrenta às instituições legais à base de pólvora, não interessando em atingir pessoas do povo, tanto que queimam ônibus, queimam veículos particulares, explodem granadas e distribuem pavor ao seu redor, já que não resta outra solução para o Estado senão responder à artilharia, pois a Nação exige uma atitude dos governantes que não podem ceder à pressão de uma sociedade desordeira e insubordinada em detrimento da paz e do sossego.
O Rio de Janeiro lembra Medellin, na Colômbia, nos anos 80, quando a cidade mais progressista daquela Nação teve de enfrentar os cartéis do tráfico ilícito de entorpecentes, que tinham tanta força, quanto tem os traficantes do Rio de Janeiro. Entretanto, hoje aquela cidade colombiana é um exemplo para o mundo, pois saiu do barbarismo urbano aturdido pela ação truculenta dos grandes traficantes, para, neste momento, se tornar um centro urbano de exploração turística, transformando-se numa cidade modelo e que atrai inúmeros turistas ano a ano.
Será que esse exemplo não pode ser copiado? Não copiamos aquilo que não interessa, mas, aquilo que rende dividendos sociais, tem de ser seguido, porque a ordem é uma coisa que se conquista, mas, muitas vezes não é preciso pagar tão caro para se alcançar esse objetivo, bastando que se busquem alternativas baseadas em exemplos bem sucedidos.
A Guerrilha urbana de Medellin não foi resolvida apenas com os dólares vindos do Estado Unidos. Tudo passou por educação e pela valorização da população sofrida, dando-lhes opção de seguir a ordem e não a desordem. A cidade se reestruturou em termos de estratégias de segurança. Abdicou um pouco do fuzil e das armas de grosso calibre, para programar ajuda humanitária e educação, fazendo com que seu povo tivesse a opção de seguir o lado bom e não o lado ruim (dos traficantes. Tudo começou com uma revolução do papel do Estado. Veja esta matéria extraída do site www.coav.org: “O Papel do Estado - A partir de meados da década de 1990, o estado desenvolveu um plano estratégico de segurança — parte de um plano de desenvolvimento municipal — e criou a Secretaria para Paz e Coexistência. Essa secretaria se especializou em entender os conflitos violentos na cidade e seus protagonistas, mesmo estando isolada de outras políticas municipais. Além disso, uma das soluções que propôs para a violência das milícias foi a criação da famosa Cooperativa de Vigilância e Segurança (COOSERCOM), uma precursora do CONVIVIR que, na opinião de muitos analistas, contribuiu para fortalecer os grupos paramilitares urbanos. No começo de sua administração, o presidente Álvaro Uribe Vélez propôs uma política chamada Segurança Democrática, concentrada essencialmente em aumentar o orçamento e os poderes das forças armadas. O ex-prefeito Luis Pérez Gutiérrez pôs um freio no Programa de Paz e Coexistência, durante sua administração (2001-2003), e implemento uma proposta chamada Eu Compro a Guerra; essa proposta trabalha com a hipótese de que investimentos econômicos apropriados podem fazer com que seja mais lucrativo para as pessoas desistir da luta, abandonar os grupos armados para ganhar salário com um trabalho honesto e participar pacificamente da sociedade. Entretanto, em termos de programas de segurança com participação da sociedade civil, não há resultados tangíveis nem ações dignas de serem mencionadas aqui.”
Evidente que não foi apenas essas questões acima enumeradas que acabaram com poder dos traficantes em Medellin, já que o principal ponto foi o reforço das instituições militares. Entretanto, o ponto mais importante foi dar oportunidade ao povo para sair das favelas e ir trabalhar num lugar decente. Assim, saíram da subjugação material dos traficantes e foram construir a vida com o próprio esforço. Enquanto isso, o Estado lhes dava segurança para proteger seus familiares.
Acredito que no Rio de Janeiro, não vai bastar que haja estruturação dos meios policiais, pois o primeiro passo é fazer com que as famílias de boa índole se afastem da subserviência aos traficantes. Evidente, que o primeiro impulso será o medo de represália, mas, todo ser humano prefere arriscar com as instituições legais a ficar refém de um mundo de trambiqueiros sem ordem.