Meu pior inimigo
Outro dia fiquei estarrecido por algo que me aconteceu há alguns dias atrás. O que sucedeu não importa agora, nesse exato momento, e sim, as conseqüências do ato propriamente dito. Dizem por aí que sou malandro. Outros dizem que só quero saber de mim mesmo. Mas como? Posso até ser mesmo um pouco desligado, agressivo, sempre parecendo ter a mais profunda necessidade de fazer com que todos me odeiem, apesar do fato de saber que quem mais tem pavor por mim, sou eu mesmo. Até aqui, nenhuma surpresa, nada ignominioso. Isso são apenas surtos crônicos de lucidez. A insipidez de meus atos foi, até a derradeira semana, não muito claro, específico. Sempre tive a mais profunda convicção de que fazia mais mal a mim mesmo do que às pessoas com que compartilho de minha privacidade. Entretanto, me enganei redondamente. Até agora não entendia o porquê de minha surpresa, tão ridiculamente expressada na pergunta retórica logo acima. Mas como? A minha perfídia para comigo mesmo é tão melancólica como esse texto em que tento, acredito que em vão, dar vazão aos meus mais doentios sentimentos. Talvez só eu mesmo não veja o quão idiota tenho sido por tanto tempo. Consegui me distanciar das pessoas que mais amo por simplesmente não saber dizer o quanto as amo. O quanto elas são realmente importantes pra mim. Me escondi, por anos, atrás da cortina de fumaça que é o álcool. Bebendo, me drogando, e achando que a vida seria muito compreensiva; que erros cometidos e insistidos poderiam desaparecer com um simples pedido de desculpas esfarrapado. É meu amigo, eles não se desvanecem, assim, do nada. Vou assistindo, aos poucos, tudo que pensara ter dar-me um singelo, talvez, funesto adeus, para sempre, creio. E como consertar o que talvez não tenha conserto? Outra pergunta retórica e mais alguns minutos de angústia. Por certo não é pisando na bola mais algumas vezes. Não seria, da mesma forma, aconselhável procurar por uma cadeira no buteco mais próximo. O eterno retorno, disse Freud em um de seus livros certa vez. Pode ser que estejamos todos nós, incumbidos de sermos perpétuos, de cometermos sempre os mesmo antigos e fies erros. Quem sabe? Eu só gostaria de estar aqui mais vezes para poder compensar todas as pessoas a quem eu, um dia, fiz mal. Aproveitaria a chance para pedir um milhão de vezes, ”por favor, desculpem-me, eu sei que errei, e errei feio.” Mas como? Volto a repetir... Caros leitores, palavras ditas são entes que não retornam, ao contrário de nossos erros, elas machucam e marcam para sempre a vida dos outros. Pode ser que eu não tenha tido muito tempo nesse mundo para que pudesse resolver todas as minhas pendências, por isso, recorro a Nietzsche nesse momento: “As conseqüências de nossas ações nos agarram pelo cabelo; para elas é indiferente que, no intervalo, nos tenhamos tornado melhores.”