Uma fatídica terça-feira
A personagem desta história é Dona Beatriz, mulher simples, sorriso fácil e acompanhado dele vem logo a frase: eita muié, uma expressão bem típica dos nordestinos. Eu e minha irmã a conhecemos por acaso, e a partir daí ela passou a trabalhar conosco. Para minha irmã, ela trabalha só aos finais de semana dando uma geral na casa, e para mim apenas quando surge um serviço extra.
É, dona Beatriz é assim mesmo, pueril, batalhadora, mulher de fibra que literalmente derrama muito suor para criar os filhos. Trabalha daqui, roça dali, lavadeira de primeira, zelosa, cuidadosa, garbosa. Vive sempre arrumadinha, o estilo das roupas não muda: saia e blusa de manga, só as estampas é que mudam.
Ô mulher de fibra, mas que não escapou do destino astucioso. Descobri isso ao me deparar com ela num belo dia de terça-feira – aparentemente parecia belo - bem perto das dez horas da manhã, quando a cumprimentei. Imediatamente senti falta de suas características principais: o sorriso e o eita muié. Havia algo errado tinha certeza. Os olhos davam sinais de que carregavam o peso da alma ensanguentada, como se uma espada tivesse transpassado o seu ser.
Esquivei-me, pois me faltaram palavras. Deixei-a quieta na varanda cumprindo a lida do dia e dei uma volta na sala, fiz de conta que ia pegar um livro. Não me contive, voltei e disse num tom meio desconfiado: E aí, muié! - falo sempre no mesmo tom e uso o mesmo palavreado só para ela sentir-se familiarizada - mas quá (minha mãe é que diz isso) o retorno do cumprimento com a gargalhada fácil não soou. Calei-me e deixei-a retornar ao chão e ao mundo para ouvir minhas palavras. Ela olhou-me espantada como seu a tivesse despertado de um pesadelo.
No entanto, a resposta veio: um eita muié desenxabido, igual canja de galinha destemperada. Mesmo assim tive coragem de seguir a conversa, afinal queria entender o motivo de tão grande desolação. Nossa muié criou coragem e encarou-me quase desencarando, entende? Aí desabafou. O meu pensamento foi certeiro: mais uma peça o destino havia pregado em dona Beatriz. Não convém aqui esclarecer aos leitores, mas foi um golpe duro, tão duro que a corajosa senhora procurava as lágrimas e não as encontrava. Vai ver elas estavam guardadas para mais tarde serem despejadas nas varandas de sua rede.
Muié segue em frente, sê firme e forte como a casa construída na rocha. Se acaso o alicerce der sinais de abalo, clame ao Senhor e Ele virá em teu socorro.
E foi assim, inspirada neste dia fatídico, que compus para dona Beatriz esta música:
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CLAME AO SENHOR
A
Se você tão triste está
D
Com rancor no coração
E
Levante os olhos aos céus
E
E clame ao Senhor
D E A
Tua vida Ele vai abençoar
A E
Ore a Deus
A
Clame a Deus
D E A
Ele é a solução nas nossas aflições
Se teu olhar tão triste está
Sem saber a direção
Levante os olhos aos céus
E clame ao Senhor
Teu caminho ele vai abençoar