Zé de Marley em "Absurdos Cotidianos".
Doador de Sangue: A tampa do Balaio.
Quase sexagenário, Zé de Marley, transmite suas observações cotidianas sem pretensões ou ideais: apenas quer falar. Convidado como de costume, entre um trago e outro, desta vez dá algumas dicas a um grupo de mulheres solitárias, no hall de entrada de um banco de sangue, no Planalto Central. Segue o relato:
- Desnecessária! Isso mesmo: é desnecessária a participação de vocês nestes grupos que buscam criar o tal do “par perfeito”. Gastam dinheiro à toa para conversar por meio de chats e manterem um bobo e romântico cadastro on-line. Tudo isso não passa de uma imbecil panfletagem da pessoa - publicidade mal feita. Sem falar no termo “par perfeito” que é uma droga. Bom mesmo é encontrar a tampa do balaio, da panela, enfim. No caso das eternas senhoras: qualquer chinelo velho para um pé descalço já serve.
- O motivo de marcar o encontro aqui foi de caso pensado. Justamente para que vocês começassem a primeira pesquisa de campo ou ao menos observassem. Dias atrás estive aqui, a convite de um amigo, para doar sangue. É claro que o meu foi rejeitado, mas o dele não. Que vergonha para ele, eu penso. Garoto jovem, solteiro, macho, bem sucedido profissionalmente, escritor, pensador, bonito e que voltou para casa com um atestado de que doou sangue. Quase um santo o moço.
- Olha, prestem atenção no que vou lhes dizer. De onde venho, seria constrangedor para qualquer cabra ser selecionado após uma entrevista dessas. A certificação de que foi doador é o mesmo que dizer que a pessoa é saudável, limpinha e, sobretudo, não pega ninguém. Exceção para os casados que se declaram fieis, logo, serão ótimos amantes. E digo para vocês que ser o outro e, no caso de qualquer uma de vocês a outra, será ótimo. Caso não tenham percebido afirmo: perfeito para vocês é o carente ou fiel doador de sangue.
- Sabem que não aceito perguntas e, para que não sigam com dúvidas, respondo a indagação comum pelos olhares de vocês: quanto aos mentirosos não se preocupem, afinal, mentirão sempre por uma causa bastante nobre. Não podemos condenar quem dá o sangue para ajudar ao próximo. A mentira passa a ser um detalhe totalmente descartável. Nestes casos, haverá mentirosos de boas almas. Perdoável. Sem contar que, no Brasil, homossexuais são impedidos de doar sangue.
- Quando vejo mulheres em situação similar a suas e que recordo de “Cacilda Caixa-Preta”. Aiai... Agüentar o que aquele corpo de Calcida agüentava só as homônimas que colocam em aviões. Ela não era encalhada, muito pelo contrário, metade dos casamentos da nossa cidade entraria em crise ou acabaria se ela se abrisse. Seriam necessários anos para degravar e relatar os fatos dos voos de Cacilda.
- Recordo ainda de quando ela me chamava para assistirmos juntinhos o “Namoro na TV” do Sílvio Santos. Ríamos da situação daquele tanto de gente infeliz, mal amada e encalhada. Era o programa inteiro “numazinha” para, no fim, dialogarmos sobre as tristes vidas ali expostas. Poderia variar o assunto, mas ela sempre dizia assim: “Zé, só sofre de desamor quem é mal comida”. Cacilda Caixa-Preta sequer teve tempo para este tipo de sofrimento.
- Agora, comecem a missão aqui mesmo, para serem vistas como caça. Doem sangue enquanto ainda são encalhadas e limpinhas. E, caso alguma precise, minta pelo bem de vocês. As com menos de 50 quilos tratem de engordar. Corram por que, para este lugar, marquei uma palestra adaptada para os homens encalhados que logo estarão à caça de vocês. Sumam. Xispem daqui! E tenho dito.
Doador de Sangue: A tampa do Balaio.
Quase sexagenário, Zé de Marley, transmite suas observações cotidianas sem pretensões ou ideais: apenas quer falar. Convidado como de costume, entre um trago e outro, desta vez dá algumas dicas a um grupo de mulheres solitárias, no hall de entrada de um banco de sangue, no Planalto Central. Segue o relato:
- Desnecessária! Isso mesmo: é desnecessária a participação de vocês nestes grupos que buscam criar o tal do “par perfeito”. Gastam dinheiro à toa para conversar por meio de chats e manterem um bobo e romântico cadastro on-line. Tudo isso não passa de uma imbecil panfletagem da pessoa - publicidade mal feita. Sem falar no termo “par perfeito” que é uma droga. Bom mesmo é encontrar a tampa do balaio, da panela, enfim. No caso das eternas senhoras: qualquer chinelo velho para um pé descalço já serve.
- O motivo de marcar o encontro aqui foi de caso pensado. Justamente para que vocês começassem a primeira pesquisa de campo ou ao menos observassem. Dias atrás estive aqui, a convite de um amigo, para doar sangue. É claro que o meu foi rejeitado, mas o dele não. Que vergonha para ele, eu penso. Garoto jovem, solteiro, macho, bem sucedido profissionalmente, escritor, pensador, bonito e que voltou para casa com um atestado de que doou sangue. Quase um santo o moço.
- Olha, prestem atenção no que vou lhes dizer. De onde venho, seria constrangedor para qualquer cabra ser selecionado após uma entrevista dessas. A certificação de que foi doador é o mesmo que dizer que a pessoa é saudável, limpinha e, sobretudo, não pega ninguém. Exceção para os casados que se declaram fieis, logo, serão ótimos amantes. E digo para vocês que ser o outro e, no caso de qualquer uma de vocês a outra, será ótimo. Caso não tenham percebido afirmo: perfeito para vocês é o carente ou fiel doador de sangue.
- Sabem que não aceito perguntas e, para que não sigam com dúvidas, respondo a indagação comum pelos olhares de vocês: quanto aos mentirosos não se preocupem, afinal, mentirão sempre por uma causa bastante nobre. Não podemos condenar quem dá o sangue para ajudar ao próximo. A mentira passa a ser um detalhe totalmente descartável. Nestes casos, haverá mentirosos de boas almas. Perdoável. Sem contar que, no Brasil, homossexuais são impedidos de doar sangue.
- Quando vejo mulheres em situação similar a suas e que recordo de “Cacilda Caixa-Preta”. Aiai... Agüentar o que aquele corpo de Calcida agüentava só as homônimas que colocam em aviões. Ela não era encalhada, muito pelo contrário, metade dos casamentos da nossa cidade entraria em crise ou acabaria se ela se abrisse. Seriam necessários anos para degravar e relatar os fatos dos voos de Cacilda.
- Recordo ainda de quando ela me chamava para assistirmos juntinhos o “Namoro na TV” do Sílvio Santos. Ríamos da situação daquele tanto de gente infeliz, mal amada e encalhada. Era o programa inteiro “numazinha” para, no fim, dialogarmos sobre as tristes vidas ali expostas. Poderia variar o assunto, mas ela sempre dizia assim: “Zé, só sofre de desamor quem é mal comida”. Cacilda Caixa-Preta sequer teve tempo para este tipo de sofrimento.
- Agora, comecem a missão aqui mesmo, para serem vistas como caça. Doem sangue enquanto ainda são encalhadas e limpinhas. E, caso alguma precise, minta pelo bem de vocês. As com menos de 50 quilos tratem de engordar. Corram por que, para este lugar, marquei uma palestra adaptada para os homens encalhados que logo estarão à caça de vocês. Sumam. Xispem daqui! E tenho dito.