A SUPERSTIÇÃO

Incrível, mas um rapaz da Coréia do Sul cometeu suicídio para auxiliar de forma invisível a seleção de seu país a derrotar seus adversários no campeonato mundial de futebol. Acreditava tanto na intervenção de "forças desconhecidas" no esporte e dizem que se inspirou no filme "O Sexto Homem", o qual era o irmão dos jogadores de um time americano de basquete que morrera e voltara para auxiliar sua ex-equipe a ganhar os jogos.

A propósito da Copa do Mundo eclodem, mundo afora, manias e formas de agir relacionadas com o sentimento supersticioso. É este ou aquele tipo de atitude repetido, religiosamente, para "dar sorte".

A superstição acompanha o homem desde há muito, tanto que Voltaire, em seu Dicionário Filosófico, editado primeira vez em 1.764, dedicou um trecho para falar sobre o tema.

Mas, o que é superstição? Os dicionários definem:

1. Sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância; crendice. 2. Crença em presságios tirados de fatos puramente fortuitos.

Entrementes, ditos pitorescos envolvendo os supersticiosos são inúmeros, exemplo: passar embaixo de escada dá azar; certos números dão azar; para uns o n° 13 é fatídico, para outros dá sorte. Levantar da cama com o pé esquerdo dá azar; gato preto passar à frente de alguém é mau agouro. Tudo para transformar num inferno a vida de muitos...

No esporte, principalmente no futebol, a coisa fica hilariante, para não dizer dramática. É tanta superstição que, João Saldanha, famoso comentarista esportivo e ex-técnico da seleção brasileira, afirmava, há muitos anos:

- Se macumba ganhasse jogo o campeonato baiano terminaria sempre empatado...

Todavia, não é só no futebol que a superstição impera.

Narra-se que no Rio de Janeiro, duma feita, ilustre membro da alta sociedade carioca ofereceu um banquete a um seleto grupo de amigos. Ao meio-dia, presentes os convidados, um dos íntimos do anfitrião contou as pessoas da mesa:

- Um, dois, três..., treze! E concluiu:

- Há treze pessoas à mesa! Um de nós tem que sair!

- Sair? - atalhou o anfitrião. Daqui não sai ninguém! Nós não somos supersticiosos como aquele comerciante que eu conheci no Egito e de que me hei de recordar sempre.

- Que história é essa? Indagou com olhos inflamados de curiosidade, um dos circunstantes.

O ilustre figurão firmou os cotovelos na mesa e contou:

- Quando eu passei pelo Cairo, há muitos anos, fui convidado pelo vice-cônsul do Brasil para um banquete de aniversário na residência de um seu amigo Moamé, não confundir com Maomé, negociante riquíssimo e notável, principalmente pelo seu sentimento religioso exagerado.

- Na ocasião do banquete, já em meio das iguarias, um dos convidados se pôs de pé, subitamente, denunciando que eram treze os comensais presentes. Moamé ergueu-se, pálido, e contou. Eram realmente treze!

Os escrúpulos religiosos do piedoso comerciante não viram, porém, o menor embaraço; sua mão trêmula tateou a toalha da mesa, apertou, crispada, uma faca de trinchar crocodilo, ergueu-a no ar como um relâmpago e desceu-a, com todo o peso do braço vigoroso, sobre a clavícula de um patrício que se sentava a seu lado...

O corpo do participante rolou, pesado, para debaixo da mesa e o banquete continuou sem incidentes, com doze pessoas apenas...

Quando o falante anfitrião terminou sua narrativa, prestou mais atenção à sua volta e contou os companheiros de mesa. Dos treze, viu que estavam reduzidos a cinco...

É claro que tal sentimento, mantido em excesso, acaba por prejudicar a vida de tantos e deva aos poucos ser deixado de lado, porquanto, ou vencemos a superstição ou seremos por ela derrotados...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 24/11/2010
Reeditado em 24/11/2010
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