Procura de emprego
Em muitos casos no extremo sul do país o trabalho depende apenas da “amizade” dentro do pequeno cenário administrativo. Município é assim. A Prefeitura serve de coração pulsante da economia, logo vem o terreno da mão de obra barata. A esfera federal e logo as opções declinam. Para o sujeito formado em História o melhor meio para lecionar no ramo é transitando pelo gabinete já mencionado. Pois completo dez anos de formado sem nunca ter lecionado um dia sequer por falta de trânsito. Os futuros alunos perguntam: o que está fazendo professor? A resposta ideal: vendendo meus livros. O melhor é vender os livros. Portanto vendo livros, mas fico muito tempo lendo aventuras de donzelas no tempo do imperador, além das façanhas de antanho, já que os índices de vendagem despencam irracionalmente. De fato ninguém tem piedade de livreiro municipal. As rádios detestam livros o que explica o gosto pela musicalidade excêntrica. Os jornais também odeiam escritores e livros o que define a qualidade dos artigos. Parece existir de verdade certa raiva oculta sobre esses diabinhos folhudos, como objeto que falta na vaidade superficial das gentes, e que, portanto, merece o mais cortante e azedo desprezo. As mães impedem que os filhos se aproximem do coisa-ruim editado para evitar as molas do futuro esclarecido.
Para piorar o ultimo recenseamento revelou que a cidadezinha diminuiu o seu seleto número de habitantes. O público ledor, digo leitor, passou de irrisório a ínfimo. Seja lá como for. Pois atrevidamente antes do Sebo (que o nome ofendeu) tive um Posto de Venda dos Produtos dos Correios, mas o selo perdeu a força vital diante da rede mundial de computadores que chupou para si o valor facial de tudo. Todos preferem o micro às cartas. Danou-se o selo.
Quero é ir-me embora, dar o fora, mas é complexo correr mundo. Mais caro que complexo, digamos de passagem, uma carestia. Engana-se quem acredita que estou me queixando; não, jamais me queixo, apenas constato. Talvez no fundo da experiência vã sirvam as côdeas para exemplo. Nisto relembro o meu velho Getúlio Vargas em final de carreira respondendo questão levantada sobre a equipe. Representam dois grupos, dizia o caudilho. Por primeiro os que não fazem nada. - E por segundo? Queria o entrevistador rapidez da frase moderna - O segundo são os que são capazes de tudo...
Confesso que estas minhas crises pessoais são medonhas dentro de minha vida espartana. Devia matar-me, todavia estou na fase da tolerância, longe das casas de tolerância, querendo apenas o ambiente para participar, trabalhar como quem vive harmoniosamente em grupo sendo o que é da abelha ao mesmo tempo da colméia. Dando e colhendo fartura. Mas o trabalho é salário rústico e o município imberbe é calado, quase não reúne gente, durão, vaidoso das convicções vazias, ainda que tradicionais. Há poucos dias conversei com um ex-investidor para fábrica de vidro, coisa da mais alta transparência, sem malbarato; e como o município produz arroz em savana, lembrando que o vidro de qualidade pode ser feito do misto de areia com casca de arroz, era projeto ideal, seguro, progressista. Os agentes municipais vetaram a obra devido à questão da poluição ser coisa séria. Muito séria. Segundo o investidor tudo estava de acordo com as regras de limpeza da lagoa; esta por sua vez tributária da “água medicada” da lavoura. Lá em São Paulo o investidor descobre então o projeto fumegando com três mil empregos diretos de salário acima do mínimo, além da contabilista do projeto inicial trabalhando a toda brida. Salvou-se.
Começar no extremo sul é começar mesmo de baixo. Cato emprego nas condições mais impossíveis do país e que ninguém duvide: devemos muito a São Paulo, desde o tempo de Martim Afonso de Souza. Há anos pleiteio uma praça com seu nome.
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