A auto-afirmação
Se há um sentimento bastante perigoso e, às vezes, predador, é a auto-afirmação. Nela, podem enveredar a carência, o embuste, o orgulho enrustido e, por vezes, a atitude gabola de um prestígio esvaído.
Na busca por um "status" inexistente ou sem sentido, muita gente boa que conheço lança mão de sua sanidade ou mesmo do seu parco patrimônio moral para vindicar, em si mesma, um elogio ou mesmo a autoridade que sequer os condiz.
Seja no âmbito de prestígio social ou na alienação intelectiva, muita gente, esvaziada de sua exígua autenticidade, constroi nelas mesmas uma imagem fictícia. Enfim, uma personagem sem alma, sem vida e com sonhos embaçados.
Quem ama a si mesmo e sabe o que é, com suas limitações e atributos, não precisa se submeter à ditadura do "glamour" fugidio ou ao culto à futilidade gratuita.
Aliás, nem mesmo se obriga a agir, numa postura tacanha e medíocre.
O amor a si próprio é o antídoto para a subserviência às convenções impostas pela sociedade - inclusive pelo microcosmo familiar.
Em suma: quem se ama não precisa se auto-afirmar!
A auto-afirmação nos faz levar ao egoísmo, a ponto de isolarmos de nós mesmos e até dos demais, em quem queremos, em tese, buscar a tal "afirmação".
Esse é o retrato da pobreza de gestos de quem procura por uma "grandeza" esvaziada de significados e de sentidos.
É a tal da auto-afirmação.