UM DRINQUE, UM  BATE-PAPO 
 
Meu computador pifou. O mundo ficou fora do meu alcance. Neuroses dessa era tecnológica moderna se manifesta no meu cotidiano. Alguns dias sem ele é residir numa ilha. Se bem que, quando viajo a passeio, tiro férias dele com o maior prazer. Entretanto, é só por alguns dias. Afinal, férias significa  apertar o nosso próprio botão off, desligar o interruptor, tirar a tomada da parede. No dia a dia não dá pra ficar longe do mundo completamente, já que quase nunca assisto à TV. A opção é buscar uma alternativa de fácil alcance. No meu caso, o computador antigo de minha irmã abandonado por aqui, até que ela resolva o que fazer com ele. Um computador bichado, com vírus pelas tampas, diga-se de passagem. Servindo mesmo e somente como um alívio na busca de notícias, para não entupir as caixas de mensagens, coisas sem muito compromisso. Voltei até a escrever a mão, apesar de sempre dormir com um bloco e caneta por perto e anotar alguma idéia surgida no sopro das madrugadas. Escrever idéias é uma coisa e escrever um texto ou poema é outra coisa. A dinâmica de escrever no computador é diferente da de escrever à mão. No computador, não se perde tanto as palavras.

Pois é, nesse computador bichado, acabo de receber um e-mail de mim mesma. Um endereço de e-mail que não utilizo, para mim mesma. Até aí, tudo bem. Vírus é vírus, é só deletar. O interessante dessa história é o que está escrito: você está convidada, pelo remetente, a fazer-lhe companhia para um drinque e um bate-papo. Achei graça, claro, mas o convite me estimulou a pensar na minha própria proposta. Um drinque e um bate-papo comigo mesma talvez possa ser interessante. Eu me telefono. Procuro um lugar atraente. Deixo reservada uma mesa para duas pessoas e ligo de novo pra mim confirmando o encontro, só para garantir que não levarei um bolo. Ao chegar no horário marcado, eu me aguardo. Quando a minha outra chegar, escolhemos o drinque, brindamos com um  tim tim  e, como sou tantas numa só, faço a pergunta que não quer calar: sobre o que mesmo  vamos conversar?