O HÁBITO FAZ O MONGE?

Certa feita a conversa, em alto estilo, girava sobre a importância que as pessoas dão às aparências, aos nomes.

À ocasião estavam reunidos alguns intelectuais, ventilando temas de grande relevância.

A conversa ia a meio quando, um dos presentes narrou um episódio envolvendo renomado escritor dizendo:

- Conta-se que Fagundes Varela era aluno de filosofia do professor Cândido de Deus e Silva em Niterói. Mau aluno por sinal. O mais de seu tempo passava-o a ler poesias e a escrevê-las, nos primeiros sinais de irresistível vocação literária.

E o mestre, um dia, disse, zangado:

- Nunca serás bom poeta! - vaticinou.

Varela não ligou e certa ocasião, compôs duas oitavas à maneira camoniana e indicou a falsa procedência: Luís de Camões, Os Lusíadas. Logo a seguir copiou duas oitavas de Os Lusíadas e assinou: Luís Varela.

Mais tarde, em aula, mostrou as quatro oitavas ao professor. E este, lendo as duas falsas atribuídas a Camões, exclamou:

- Que versos admiráveis!

E numa repulsa, para os versos que o aluno assinara:

- E estes aqui, como são ruins!

E Varela, rindo, disse:

- Os ruins são de Camões. Os outros é que são meus, professor! Eu troquei os nomes!...

O relato, então, fez-me recordar outro fato, ocorrido com certo cronista.

Ele militava na imprensa como articulista de importantes jornais, possuindo acentuado destaque. Só que usava pseudônimo, por sinal bastante imponente.

Com isso, era respeitadíssimo.

Todos os artigos contendo sua assinatura eram disputados; mas ele, intimamente era uma criatura modesta. Trabalhava como servidor numa repartição estadual, ganhando um salário que não era lá grande coisa e, por esta razão, poderia ser considerado homem pobre.

Pessoalmente era desconhecido do público, quase ninguém sabia quem era o dono daquele pseudônimo.

Certa feita, umas pessoas da Capital deliberaram conhecê-lo.

Através da redação de um dos jornais, conseguiram o endereço e foram à sua residência.

Começando pelo bairro pobre da cidade, os admiradores já principiaram a ficar desencantados. Depois, quando depararam com a figura do escritor foi total a decepção.

Olhares de um para outro dos visitantes, cada um indagando de per si:

- Este é o grande cronista? Que figura apagada; que homem sem graça; olhando-o na rua poderia conceituá-lo à conta de pessoa menos esclarecida... Como é feio!...

E, sem alongar a conversa, despediram-se profundamente decepcionados, pois, afinal, esperavam encontrar um homem pelo menos morador de uma bela casa, talvez rico, e não um "pé-de-chinelo" feito aquele...

Ocorre que não souberam avaliar o conteúdo daquele homem. Naquele momento esqueceram seus retumbantes escritos; para eles o que valia era o rótulo, aparência apenas. O famoso cronista não poderia ser aquela insignificante criatura...

Mas, assim é, para a grande maioria das pessoas o hábito faz o monge, a aparência; o nome vale mais do que o homem...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 23/11/2010
Reeditado em 25/07/2011
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