Livros
Lia muito quando criança. O hábito da leitura surgiu naturalmente para mim. Nas primeiras séries da escola, ganhava livros pela minha caligrafia. Eram livros cheios de figuras e com pouco texto. O primeiro livro com muitas páginas escritas ganhei de minha irmã Matilde. Era "Alice nos país das maravilhas". Se fosse mais cuidadoso eu o teria até hoje, mas confiei em uma professora do ginasial, que inventou de criar uma biblioteca na sala de aula e garantiu que no final do ano os livros seriam devolvidos. Ingênuo eu entreguei meu melhor livro. Queria compartilhar com os colegas de sala as aventuras maravilhosas de Alice. Mas alguém quis ficar com o livro para si e nunca mais o vi.
Já adolescente e economizando o pouco dinheiro que ganhava, comprei meu primeiro livro, "A Profecia". Esse eu tenho até hoje e ele é muito bem cuidado. Não empresto de jeito nenhum. Foi comprado em 14 de novembro de 1977, na antiga Livraria Guanabara, em São José dos Campos.
Tive a felicidade de estudar em uma escola ao lado da biblioteca municipal Cassiano Ricardo e me tornei um assíduo frequentador. Lá conheci a obra completa das aventuras de Tarzan, personagem criado por Edgar Rice Burroughs. Devorava os livros daquela biblioteca. Eram meus companheiros de infância e adolescência.
Conheci Poirot e Sherlock Holmes. Descobri que Frankenstein não era o monstro e sim seu criador e que o monstro não era mau. Apenas uma criatura incompreendida e abandonada por seu "pai".
Li escondido "As Traças", de Cassandra Rios, escritora proibida na época. O livro era considerado "adulto" e pornográfico. Hoje talvez fosse roteiro de novela das seis da Globo.
Quando meus filhos eram pequenos, comprei a coleção completa das histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo. Uma grande obra de um grande escritor brasileiro, Monteiro Lobato, que está atualmente no centro de uma polêmica provocada por pessoas que acham que a história deve ser mudada e que mudando a história o presente se torna outro. Ridículo. Viva Pedrinho, viva Narizinho. Viva Emília e principalmente viva Tia Nastácia ("negra de estimação").
Conheci Clarissa, menina-moça. Acompanhei a Moreninha, deliciei-me com Capitães de Areia, meu primeiro Jorge Amado. Achei ousadas as histórias de Gabriela e de Tieta.
Emocionei-me com a triste história de Heathcliff e sua amada Katherine, em "o morro dos ventos uivantes".
Viajei pelo mundo através das histórias de Júlio Verne.
Devorei os best-sellers de Sidney Sheldon, começando com "o outro lado da meia-noite".
Ao longo da minha vida, ganhei diversos livros. Meu filho Michel, em 1995, me deu de presente de Natal, "O Vermelho e o Negro".
Em minha última mudança, de Caraguatatuba para Goiânia, percebi que tinha mais livros não lidos do que lidos. Gosto de comprar livros.
Há livros que me prometi ler. Há livros que talvez um dia leia. Há livros que estão esperando para serem relidos.
Sei que nunca chegarei perto de ser proprietário de uma biblioteca como José Mindlin (seria muita pretensão), mas tenho orgulho de olhar para minha estante e ver os livros que hoje tenho.
Meus filhos também gostam de ler. Um hábito que acredito ter uma parcela de responsabilidade. Isso me deixa feliz.
Aprendi que não se deve ter preconceitos na leitura. Podemos nos divertir lendo os romances dito populares, assim como refletir sobre a vida lendo os autores considerados "intocáveis", como Cervantes, Proust e outros.
O importante é ter prazer na leitura.