Leituras Inesquecíveis X: Proibido ou recomendado?
Por princípio e dever de ofício defendo intransigentemente o direito à liberdade de expressão, o direito à livre escolha, por pior que seja, no meu ponto de vista, essa escolha.
No geral, tenho exercitado a tolerância. Tenho me esforçado diuturnamente para “manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”, porém há questões em que me recuso calar
por ter a convicção de que meu silêncio só me fará mal, que a minha voz também é anúncio, denúncia.
Desde que comecei a ler aos 04 anos nenhum escrito, nenhum livro me foi proibido. Só meu pai, quando me via tarde da noite de nariz enfiado numa leitura qualquer, tirava o livro de minha mão e me obrigava a deitar, pois “aquilo não era hora de criança tá acordada”, mas, jamais me proibiu de ler o que quer que fosse.
Sei também por experiência leitora que somos fisgados para escolher um livro por várias razões e dou razão ao que li ou ouvi em algum lugar, um autor recomendando: se quiser que alguém leia algo, proíba-o. Com crianças e adolescentes é assim que funciona: quanto mais proibido melhor, porém, não imaginava que alguém em pleno século XXI, proibisse leituras só por proibir ou por qualquer outra razão.
Não imaginava, pois dias desses vivi uma situação no mínimo surreal. Vinícius emprestou um livro a um amigo da mesma idade e dias depois veio me contar que a mãe do menino havia “doado” o livro dele. Achei a história meio esquisita, pois não entendo como alguém “doa” algo que não lhe pertence. Pedi o nº do telefone, para esclarecer a historia. Um tanto sem graça, o garoto me passou o número de sua mãe.
Liguei, cumprimentei e fui direto ao assunto. Ríspidamente a mãe me respondeu que sim, que “doara” o livro porque não queria “aquele tipo de livro em minha casa”... Fiquei pasma!Nada justificava aquela grosseria!Retruquei pacientemente que tudo bem, mas que o queria de volta, pois era o primeiro volume de uma coleção de cinco livros.
A mãe insistiu em me pedir desculpas... eu falei que desculpava pelo ato de doar o que não era dela, mas queria o livro de volta. Disse o valor do livro, ouvi mais umas grosserias e desliguei. Quem me conhece um pouco faz uma ideia de como foi o resto do meu sábado...
Mas, algumas horas depois a mãe me chamou á porta... Na frente dos nossos filhos praticamente me atirou o dinheiro no colo e “proibiu” Vinícius de emprestar livros para seu filho. Perguntei se conhecia o livro, se havia lido algo que o desabonasse mas me respondeu com toda a “delicadeza” que eu “educasse meu filho do meu jeito que ela educava do dela”.
A essa altura devem estar pensando que meu “degenerado” filho de 13 anos emprestou algum manual de terrorismo ou, pior de tudo, algum manual sexual surrupiado da minha estante. O livro emprestado e “doado” era/é O Ladrão de Raios da série Percy Jackson e os Olimpianos, uma série de cinco livros juvenis de aventura do autor americano Rick Riordan, brilhantemente baseada na mitologia grega. O protagonista da série é Percy Jackson, que descobre ser um semideus, filho de Poseidon, deus do mar. O livro é uma delícia de ler, escrito na primeira pessoa, como gosto.
Como educadora, certamente que sei que há questões que fogem á compreensão e entendimento de uma criança, mas na medida em que as nossas crianças perguntam o que é e por que ELAS QUEREM SABER e nada mais epistemológica que a curiosidade!
O que leva uma mãe proibir a leitura de algo, certamente deve ser não só o desconhecimento, a desinformação, mas, principalmente, a compreensão e o entendimento de que determinadas “ideias são perigosas”. Imagino que para alguém com “convicções religiosas” quase fundamentalistas a simples menção das palavra em minúsculo “deus”, “semideus” deve ser heresia, sacrilégio... E não adianta dizer que é literatura...
Nunca imaginei viver algo assim!Disso tudo, afora o meu aborrecimento de ver meu filho ser tratado como alguém de “péssimo caráter” que é capaz de “influenciar para o mal”, e por tabela o pai e eu também já que nós o “educamos” assim, a sensação de que nem tudo está perdido: dias depois o menino contou a Vinícius que havia concluído a leitura do livro e já ia iniciar o segundo volume. Na internet.
Por princípio e dever de ofício defendo intransigentemente o direito à liberdade de expressão, o direito à livre escolha, por pior que seja, no meu ponto de vista, essa escolha.
No geral, tenho exercitado a tolerância. Tenho me esforçado diuturnamente para “manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”, porém há questões em que me recuso calar
por ter a convicção de que meu silêncio só me fará mal, que a minha voz também é anúncio, denúncia.
Desde que comecei a ler aos 04 anos nenhum escrito, nenhum livro me foi proibido. Só meu pai, quando me via tarde da noite de nariz enfiado numa leitura qualquer, tirava o livro de minha mão e me obrigava a deitar, pois “aquilo não era hora de criança tá acordada”, mas, jamais me proibiu de ler o que quer que fosse.
Sei também por experiência leitora que somos fisgados para escolher um livro por várias razões e dou razão ao que li ou ouvi em algum lugar, um autor recomendando: se quiser que alguém leia algo, proíba-o. Com crianças e adolescentes é assim que funciona: quanto mais proibido melhor, porém, não imaginava que alguém em pleno século XXI, proibisse leituras só por proibir ou por qualquer outra razão.
Não imaginava, pois dias desses vivi uma situação no mínimo surreal. Vinícius emprestou um livro a um amigo da mesma idade e dias depois veio me contar que a mãe do menino havia “doado” o livro dele. Achei a história meio esquisita, pois não entendo como alguém “doa” algo que não lhe pertence. Pedi o nº do telefone, para esclarecer a historia. Um tanto sem graça, o garoto me passou o número de sua mãe.
Liguei, cumprimentei e fui direto ao assunto. Ríspidamente a mãe me respondeu que sim, que “doara” o livro porque não queria “aquele tipo de livro em minha casa”... Fiquei pasma!Nada justificava aquela grosseria!Retruquei pacientemente que tudo bem, mas que o queria de volta, pois era o primeiro volume de uma coleção de cinco livros.
A mãe insistiu em me pedir desculpas... eu falei que desculpava pelo ato de doar o que não era dela, mas queria o livro de volta. Disse o valor do livro, ouvi mais umas grosserias e desliguei. Quem me conhece um pouco faz uma ideia de como foi o resto do meu sábado...
Mas, algumas horas depois a mãe me chamou á porta... Na frente dos nossos filhos praticamente me atirou o dinheiro no colo e “proibiu” Vinícius de emprestar livros para seu filho. Perguntei se conhecia o livro, se havia lido algo que o desabonasse mas me respondeu com toda a “delicadeza” que eu “educasse meu filho do meu jeito que ela educava do dela”.
A essa altura devem estar pensando que meu “degenerado” filho de 13 anos emprestou algum manual de terrorismo ou, pior de tudo, algum manual sexual surrupiado da minha estante. O livro emprestado e “doado” era/é O Ladrão de Raios da série Percy Jackson e os Olimpianos, uma série de cinco livros juvenis de aventura do autor americano Rick Riordan, brilhantemente baseada na mitologia grega. O protagonista da série é Percy Jackson, que descobre ser um semideus, filho de Poseidon, deus do mar. O livro é uma delícia de ler, escrito na primeira pessoa, como gosto.
Como educadora, certamente que sei que há questões que fogem á compreensão e entendimento de uma criança, mas na medida em que as nossas crianças perguntam o que é e por que ELAS QUEREM SABER e nada mais epistemológica que a curiosidade!
O que leva uma mãe proibir a leitura de algo, certamente deve ser não só o desconhecimento, a desinformação, mas, principalmente, a compreensão e o entendimento de que determinadas “ideias são perigosas”. Imagino que para alguém com “convicções religiosas” quase fundamentalistas a simples menção das palavra em minúsculo “deus”, “semideus” deve ser heresia, sacrilégio... E não adianta dizer que é literatura...
Nunca imaginei viver algo assim!Disso tudo, afora o meu aborrecimento de ver meu filho ser tratado como alguém de “péssimo caráter” que é capaz de “influenciar para o mal”, e por tabela o pai e eu também já que nós o “educamos” assim, a sensação de que nem tudo está perdido: dias depois o menino contou a Vinícius que havia concluído a leitura do livro e já ia iniciar o segundo volume. Na internet.