A cela da vida
Este é mais um capitulo da saga de um guerreiro, um viajante escravizado pela vida, um explorador da dor, da tristeza, e poucas vezes... da felicidade. Devo alerta-lhe, querido leitor, que ao percorrer as letras desta cronica, talvez seja assombrado pela realidade e torturado pela angustia.
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Ele gostava de andar pela avenida. Em meio aos carros que passavam fazendo vento. Então lá estava ele, explorando a morte mais uma vez, tentando separar-se do mundo dos mortais. A noite estrelada contrastava com aquele espirito suicida. E até quem olhava, sentia o pesar carregado por aquela criatura. Ele parou de andar no fim do relevo que separava as pistas em que passavam aquelas luzes vermelhas. Esticando os braços horizontalmente, separando-os em formato de cruz, quase podia tocar a lateral dos caminhoes que passavam com estrondo pela avenida. Estava a um passo da morte, da vida, da desistencia ou da persistencia.
Observava as pessoas dentro dos carros, passantes, falavam alto ao telefone. Nao sabiam conversar, feriam-se mutuamente. Este era o caos cujo estava incapacitado a entender, mas condenado a conviver com. Mas ainda desejava deixar de ser um parasita daquele organismo enfermo. Perguntava-se como seria ter um gole daquela fragilidade que corria nos humanos para que pudesse morrer finalmente. E assim, escapar do Fim dos Tempos que via em cada um de nós.
Irrelutante, saltou para a frente dos carros. E enquanto os carros e caminhoes começavam suas cadeias de giros e movimentos desordenados pela pista, viu em flashes o fim da terra, passando embaralhado como um filme antigo de cinema. Por concidencia ou não, eram as mesmas imagens do que via antes de fechar os olhos.
Mas aquela criatura não morreu, como temia. E esta fora sua tentativa numero 66. Estava mesmo condenado a viver no inferno, tentando amenizar o mau que faziam uns aos outros. E nisso, continuava insistindo.
... Sem saber que as folhas que viviam dentro do coração humano , aquelas que algum dia foram verdes, já viraram cinza, foram esquecidas e levadas pelo vento.