CÉREBROS PROSTITUÍDOS, MÃOS DE ALUGUEL

José Neres

(Professor e escritor)

De um lado da mesa de negociação está uma pessoa inteligente, bem formada, com bom nível intelectual, e, pelo menos em teoria, com necessidades econômicas e, na prática, com evidente carência ética e moral. Do outro lado, está alguém que frequentou as aulas, mas que, ou por deficiência intelectual, ou por falta de habilidade, não aprendeu o suficiente para ter competência de elaborar suas próprias atividades acadêmicas, sejam elas trabalhos corriqueiros de meio de curso, artigos científicos, monografias, dissertações ou teses.

Quanto custa uma monografia? Quanto custa uma dissertação? Por quanto será que sai um trabalho? Qual o preço pago por uma certificação? Para quem realmente estudou e se prepara para levar uma vida profissional pautada pela ética e pela busca da competência, essas perguntas parecem sem sentido. No entanto, se o objetivo é apenas ter um diploma na gaveta, se é tão somente entrar para estatísticas oficiais, sem preocupação com o que poderia ser assimilado na sala de aula e levado para a vida profissional, tais perguntas são tão corriqueiras quanto querer saber o preço de um cigarro ou de um quilo de carne.

A prostituição intelectual é tão grande e tão visível e despudorada que não sente vergonha em se oferecer em páginas de jornais, murais de universidades, faculdades, escolas, cursos de pós-graduação e congêneres. Às vezes, uma tênue sombra de pudor faz com que os aproveitadores da incompetência alheia disfarcem seus negócios com pomposos nomes como apoio à pesquisa acadêmica ou serviço de digitação, o que acaba virando estigma negativo para quem realmente faz apenas a digitação de trabalhos, sem envolver-se em fraudes.

Não são raros os casos em que os “elaboradores de trabalhos” apenas recorrem às páginas da internet, fazem uma coleta de trabalhos com a temática pretendida, fazem uma colcha de retalhos com textos variados e vendem para os incautos e preguiçosos compradores como se aquilo fosse um texto original, tecido pelas hábeis mãos do incansável “trabalhador” da palavra. Outros, temerosos de que o texto seja verificado em um dos programas eletrônicos que farejam plágio, preferem copiar de livros e/ou de trabalhos defendidos em universidades de outros estados.

O aluno, por sua vez, chega mesmo a levar os “originais” para que seu orientador leia, faça suas correções e sugira modificações a fim de tornar o trabalho encomendado mais pessoal. O professor, às vezes por comodismo ou inexperiência, às vezes fazendo-se de bobo por não ter provas cabais de que seu orientado está pagando pelo trabalho, fecha os olhos, finge que tudo está ótimo e aprova o trabalho.

Algumas empresas mais organizadas oferecem, além do texto revisado e encadernado, treinamento para que o cliente se saia bem na defesa pública do trabalho. No dia da apresentação, como se um voz do além iluminasse a cabeça daquele graduando, ele demonstra todo o seu conhecimento perante o publico presente e, em alguns casos, ainda comemora com a família a vitória de tantas horas de esforço.

De quem é a culpa? Aparentemente todos são culpados. Instituições, docentes, discentes... Pois só há quem venda trabalhos, porque também há quem os compre. E, na falta de competência, pode parecer um bom negócio pagar pela competência alheia, mesmo que não se possa reclamar em caso de ser enganado.

José Neres
Enviado por José Neres em 21/11/2010
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