LIBERDADE DE EXPRESSÃO QUE OFENDE ( Não me calarei irresponsavelmente)
Claudeci Ferreira de Andrade
Desta vez, foi convocada uma reunião extraordinária, arregimentando todos da escola, desde a porteira servente até a diretoria, as aulas terminaram quinze para as dezessete horas, tempo suficiente para a pauta, que seria a crônica do professor Claudeci: “Vaquinha, comportamento da plebe”, que foi lida no recreio, na sala dos professores, e apenas cinco cópias impressas no computador da escola, distribuídas. Ninguém nunca conseguirá entender as razões da reprimenda, sem querer subestimar a inteligência de ninguém, mesmo depois que ler o texto em questão! Sou suspeito até para dizer isso, mas é um texto jornalístico de alto nível literário, totalmente ético, gramatical e semanticamente correto, completamente verossímil e de bons propósitos, preferi não escrever nenhum nome para dissimular os reais culpados. A tal crônica foi colada na folha da ata assinada por todos os ouvintes e está ali como prova que ela tem como foco principal a valorização do respeito ao outro. Por que os supostos personagens do incidente se sentiriam ofendidos? Não é a escola um ambiente cultural e de construção de cidadania? Ou a educada liberdade de expressão, princípio da democracia, não é validada entre os que ensinam? Se criticam minhas crônicas de ofensivas, que são mais suaves que os relatórios oficiais dos incidentes escolares, o que diriam se olhassem o Livro de Atas, nomeando advertidos, culpados e castigados!
Na tal reunião, fui interrogado por que não ocupo minha coluna no jornal só com os feitos positivos da escola, que respondi: “Para fazer melhorar não interessa o que está certo, mas interessa o que está errado”. Aproveitando o ensejo, disse-lhes ainda que não inventei nada, apenas descrevi os fatos numa perspectiva didática. Agora, encontro conforto nas palavras do George Bernard Shaw: “Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela.”
Muitas vezes, se confunde liberdade com libertinagem, só pela fonologia dos vocábulos. A libertinagem é violenta, viola o direito de outros, desdenha esses direitos, recusando a outros sua própria dignidade e valor com menosprezo, ela afasta-nos da verdade que nos faz livres. Por outro lado, a liberdade é dignificante, santificadora, sagrada, desde que liberta do egoísmo e dos erros aviltantes, a liberdade produz brilho gerador de um justo caráter enaltecido, esta que é minha proposta. Lamento, com isso, ter que dizer o que muitos não querem ouvir, como disse George Orwell: “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.” E se Deus me deu o dom da fala para eu defender minha vida, por que sempre tenho que permanecer calado para sobreviver? Por isso, não me calarei irresponsavelmente. Assim como não param de dizer mentiras sobre mim, não pararei de falar verdades sobre eles.