Espancadores

“Não importa quem vai apanhar. Eu quero é bater”.

Esse, deveria ser o lema de muitas pessoas. Pessoas estas que não estão lá muito interessados nas razões do outro. O que importa, é espancar até que veja saciada, a sua necessidade de matar aquilo que ela não é, e provavelmente, nunca será.

Geralmente, os espancadores têm um comportamento padrão. Primeiro, eles se aglutinam em bandos. Bandos com afinidades ideológicas parecidas. Por serem espancadores, e fazerem uso da violência, vê-se logo a inconsistência de seus fundamentos intelectuais. Quando os têm.

Uma vez unidos em um bando, se encarregam de querer limpar o mundo de qualquer coisa que não seja parecido com eles. Um exemplo: se são intelectualmente medianos, e não vão além do senso comum em suas opiniões, tratam logo de querer espancar até a morte, idéias bem embasadas e inteligentes. Aí, é um salve-se quem puder. Sobra pedaço de idéia para todos os lados. Isso quando não se esquarteja a moral do dono da idéia.

Depois de promovido o linchamento, é hora da indiferença. Seguindo o comportamento padrão dos espancadores, estes se distanciam da vítima, e fazem aquela cara de que ele fez por merecer. E não ligam para os restos que ficaram espalhados.

Muitas vezes, as idéias a serem combatidas, não precisam ser nem geniais. Bastam ser diferentes. E se são diferentes, representam ameaça. Isso porque um dos preceitos máximos dos espancadores é o do nivelamento das idéias geralmente por baixo, homogeinização do pensamento, e adulação mútua. O problema maior, é que os espancadores não usam da adulação como seu nefasto propósito de conseguir algo em troca. E sim, como maneira de compensarem sua auto-estima rasteira e sua moral cambiante.

Os clubinhos de espancadores, se espalharam por todos os setores da sociedade, e ninguém está livre deles. Basta discordar de alguém, ou ter idéias diferentes, para descobrir que a próxima vítima poderá ser você.

Mas não se engane. Nem todos os espancadores são violentos. Há os espancadores com certa sutileza. Estes, por meio de jogos e dissimulações fingem aceitar as diferenças e louvar a novidade.

Mas são daquele tipo que convidam para tomar um chá, sendo que na sua xícara, há uma gotinha de cianureto.

E há o mais detestável grupo de espancadores, que são os espancadores sênior. Estes, ao longo de uma vida repleta de violência gratuita, passam adiante seu legado, especialmente aos jovens incompetentes, que, por medo de crescerem, preferem que ninguém cresça. Os espancadores sênior, geralmente cobertos por teias de aranha e pelo lodo de sua inutilidade, são os responsáveis pela propagação da irracionalidade. São os pretensos intelectuais que se gabam da experiência de vida. Mas a única coisa que souberam fazer em toda a sua vida torta, foi impedir a vida alheia.

Não há muita defesa contra esse grupo de intolerantes. Pois qualquer motivo serve para se ameaçar, acuar e violentar os incautos. Como espancadores não entendem muito de sutilezas, o melhor talvez, seja deixar descritos nas entrelinhas, as reais idéias. O arcabouço da obra pode ser uma porcaria (bem ao agrado deles). Mas as idéias contidas, de fato, provavelmente só serão descobertas por almas menos cretinas e menos sebosas.

Sou contra todo tipo de violência, especialmente contra aquela que quer matar o pensamento independente. Por isso, digo que quem ainda tiver algo de útil para dizer, que faça como os espancadores: se unam. Porque se há uma qualidade entre eles, é que são unidos (isso,pelo menos até acabarem os espancados. Aí eles começam a espancar a si próprios.).

Cuidado, amigo leitor.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 12/10/2006
Código do texto: T262559