BOTECO DO PAU BAMBO

Podem não acreditar, mas o boteco existe mesmo e o nome é esse! Fica no bairro da Renascença, quase divisa com o da Cachoeirinha, próximo à famosa “padaria do japonês” (PAN-MEL), a melhor da região, aqui em Belô/MG.

E a freguesia faz jus ao nome do bar, pois ali se reúnem os carecas e barrigudos que já passaram dos sessenta (ou mais), todos ao redor das mesinhas dispostas dentro e fora do recinto, até na calçada. À medida que as garrafas de cerveja vão sendo abertas e as doses de pinga vão sendo servidas, os “habitués” vão engrolando as falas, aumentando o volume e chegando quase aos gritos, dando-nos a nítida impressão de que vai sair porrada! Mas nada sério, é só gritaria. Mesmo porque os caras já não agüentam com tanta coisa mais simples, o que dirá com uma boa briga.

Aí fica assim, a gritaria que ensurdece, as gargalhadas estrepitosas que assustam os passarinhos dos arvoredos próximos e que estimulam os cães da vizinhança a latirem desesperadamente.

De vez em quando um dos fregueses ergue-se da cadeira, cambaleante, os cornos já cheios e sai de cena abraçado a um bom samaritano, cujo amigo se prontifica a levá-lo à casa. A maioria reside por ali nas proximidades, mas muitos vêm de outros bairros para o congraçamento com os seus pares.

E o tempo passa, o pessoal do boteco incansável no atendimento aos freqüentadores, garrafas e mais garrafas de cerveja vão despejando o líquido amarelinho e espumante nos copos dos “bebuns” e as piadas vão acabando, as risadas vão cessando, surgem as primeiras estrelas e a noite anuncia-se em todo o seu esplendor.

É o momento, então, daqueles homens maduros, muitos de cabelos encanecidos pela neve dos anos, muitos também já totalmente carecas, todos barrigudos, é o momento de procurarem as suas moradias pra curtirem a bebedeira, caírem numa cama limpa e arrumada pela sua “Amélia” de sempre, aquela “que era mulher de verdade”.

No boteco ficaram apenas o dono e seus empregados, na arrumação das mesas e cadeiras, na limpeza do ambiente e no ajeito das coisas para o dia seguinte, quando começará um novo capítulo daquela comédia citadina:- o “Boteco do Pau Bambo” abre as suas portas para mais um espetáculo cotidiano, vivenciado pelos carecas e barrigudos do bairro e adjacências, no simulacro de suas alegrias, na contação de piadas e de “causos”, na balbúrdia que agita o pedaço e atiça a cachorrada.

As portas de aço são cerradas, o dono e os empregados vão embora e o silêncio reina por ali. Dependurada no frontispício do imóvel, a placa indicativa balança timidamente agitada por uma brisa vespertina, como se as letras estivessem bêbadas feito a sua freguesia:- "BOTECO DO PAU BAMBO” ! ...

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B.Hte., 19/11/10

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 19/11/2010
Reeditado em 29/07/2014
Código do texto: T2625344
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